Título: Egoísmo do governo causou revolta, diz PCC
Autor: Marcelo Godoy, José M. Tomazela e Chico Siqueira
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/05/2006, Metrópole, p. C1

Presos divulgaram ontem por celular um manifesto explicando os motivos da maior rebelião em série do País. Um trecho diz:

"A população carcerária vem perante os cidadãos tentar esclarecer a realidade do sistema carcerário e a conseqüente revolta ocorrida nos dias 12,13, 14 e 15 do corrente mês.

Durante muitos anos, a Secretaria da Administração Penitenciária recebeu informações de direções e funcionários das unidades prisionais que tinham atitudes ditadoras sobre sentenciados, muitas vezes geradas por animosidades pessoais ou, pior, pela ânsia de punir os sentenciados".

Em outro trecho, os presos alegam: "No dia 11, apesar de há muito reinar a paz no sistema carcerário, governantes e autoridades ligadas ao sistema realizaram na calada da madrugada a remoção de aproximadamente 800 presos de todas as unidades do Estado para a unidade de Presidente Venceslau 2. Problema algum haveria em realizar as remoções se não tivessem sido feitas sem o conhecimento sequer das direções e de presos, com benefícios montados e que problema algum de disciplina vinham causando nas unidades em que se encontravam. E pior, na véspera do Dia das Mães. Ressaltamos que impedir o sentenciado de conquistar um benefício, sonhar com a liberdade e de receber o amor de seus familiares é o mesmo que arrancar-lhes as pernas e braços".

Outro trecho diz: "A revolta ocorrida se deu por essa atitude egoísta do governo e de autoridades que visam apenas seus próprios sucessos políticos e não por reivindicações absurdas como telões e visitas íntimas no RDD como noticiam os periódicos. Esclarecemos que a revolta se deu no sistema carcerário onde os únicos prejudicados somos nós, presos. Quanto ao ocorrido nas ruas, infelizmente houve ações de muitos oportunistas que aproveitando-se da situação acabaram de tirar diferenças pessoais contra policiais bem como cometeram atos de puro vandalismo.

Nada justifica o que aconteceu, muito menos o pavor que moradores e vizinhos das unidades prisionais e demais cidadãos sentiram. Porém é importante salientar que nós sentenciados somos seres humanos com anseios, sentimentos e esperanças. Não queremos nos eximir de nossas culpas e atos. Porém desejamos que não nos seja tirado o direito de sonhar, ter esperança de uma vida melhor. E sermos tratados com dignidade e respeito".