Título: FHC critica acerto com PCC em São Paulo
Autor: Marcelo Godoy, José M. Tomazela e Chico Siqueira
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/05/2006, Metrópole, p. C1

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso classificou de "muito preocupante" a trégua nos ataques criminosos em São Paulo acertada entre o líder do PCC e representantes do governo do Estado. "Eu só entendo se for taticamente, mas acho que essa não pode ser uma política", afirmou, nos bastidores de um evento do Banco Itaú, em Nova York.

"Se for verdade, é muito preocupante. Não dá para deixar que criminosos se transformem em força reconhecida", disse. Para FHC, a política tem tem de ser de desmonte da rede criminosa. "É uma grande rede, e maior do que se imaginava."

Na opinião do ex-presidente, os ataques em São Paulo foram uma reação ao esforço que já havia sido feito no Estado para o controle e repressão do crime. "Essa explosão ocorreu porque a polícia de São Paulo queria transferir os presos para um local inacessível. É porque estão sentindo desespero. É uma reação de violência, mostrando que estamos próximos de controlar o crime, se tivermos uma linha efetiva", disse.

Citando editorial do Estado, Fernando Henrique disse concordar que há decisões do Judiciário incompatíveis com o grau de violência e organização do crime. "É preciso entender isso: não dá para tratar o crime atual com o espírito do passado", ponderou, acrescentando que é preciso fazer "uma revisão do sistema prisional e também do sistema legal".

Segundo FHC, fazer uso político de ataques criminosos é um erro eleitoral e é irresponsável diante da gravidade do problema. Ele avalia que a população não vai acreditar no uso eleitoral da violência provocada por ações criminosas.

Para ele, "isso acontece em toda parte". "Aconteceu em Mato Grosso do Sul e vamos pôr a culpa no PT? Não tem sentido. É um problema nacional, de Estado, e não dá pra ficar na ótica miúda", observou.

Em Brasília, o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), fez autocrítica pela forma que o governo FHC tratou a segurança pública. "O governo FHC, do qual fui líder e ministro, tratou da economia, da estabilidade econômica, fez trabalho que será reconhecido pela História, mas não deu prioridade à segurança pública", disse. "Nem o governo Lula está dando a atenção necessária."

Virgílio fez a autocrítica durante a sessão da Comissão de Constituição e Justiça do Senado convocada para tratar de projetos para a segurança pública.