Título: Notícia de acordo deixa revoltados parentes de vítimas
Autor: Marcelo Godoy, José M. Tomazela e Chico Siqueira
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/05/2006, Metrópole, p. C1

Associações de policiais e parentes das vítimas do Primeiro Comando da Capital (PCC) reagiram com indignação à notícia de que o Estado fez um acordo com a facção criminosa.

"É um absurdo fazer acordo com bandido, não é possível acreditar em traficante", disse o presidente da Associação Desportiva do Corpo de Bombeiros de São Paulo, cabo aposentado Antônio Carlos Alves, o Carlinhos. Amigo do soldado Alberto Costa, morto ao deixar o batalhão no sábado, ele considera o suposto acordo uma afronta.

Se os chefes do tráfico fizeram mesmo um acordo com o governo, considera, "foi para acabar com a repressão que interrompeu o seu negócio, a boca de fumo". Embora a Polícia Militar negue, Carlinhos acredita que tenha havido um acerto, uma vez que as rebeliões e os ataques cessaram de repente.

"O secretário da Segurança está com vendas nos olhos", disse Carlinhos. Os traficantes voltarão ao ataque, acredita, logo que se sentirem livres para retomar a venda de drogas. "Marcola aterroriza toda a população."

Para a presidente da Associação de Funcionários da Polícia Civil de São Paulo, Luci Lima, é impossível acreditar que o governo cedeu às condições dos bandidos. "Que força tem a palavra de um criminoso?"

As famílias dos policiais, disse, estão apavoradas. "Mulheres e filhos estão mudando, com medo de serem atacados." Na associação, que oferece curso preparatório para a carreira, alunos cancelaram matrícula.

"Esse acordo traduz a fragilidade do Estado", disse um dos cunhados do investigador José Antônio Prada Martinez, o Tito, de 41 anos, morto no Itaim-Bibi, zona sul. A expectativa da família é que, enterradas as vítimas, a tragédia do fim de semana seja esquecida. "O crime voltará, quando os traficantes puderem vender impunemente."

Um parente do agente penitenciário Amauri Bonilha, morto na Vila Maria, está revoltado. "Um bandido tira a vida de quem gostamos... Como é possível negociar? Não foi a primeira nem será a última vítima."