Título: Só faz quem deve ao PCC, diz indultado
Autor: Marcelo Godoy, José M. Tomazela e Chico Siqueira
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/05/2006, Metrópole, p. C1

Em frente ao Fórum Criminal da Barra Funda, 25 homens que cumprem pena em regime semi-aberto e foram liberados para comemorar o Dia das Mães fora da prisão negaram participação nos ataques do Primeiro Comando da Capital (PCC) à polícia. "Ninguém obriga ninguém. Faz quem tem compromisso, ou deve para eles", diziam.

Fora do grupo de presos que consegue a liberdade em datas comemorativas e jamais voltam à cadeia, ontem eles aguardaram mais de seis horas para conseguir um transporte que os levasse de volta à Penitenciária de Pacaembu, no interior.

Apesar de não quererem falar muito sobre os ataques, a possibilidade de uma ligação entre os que tiveram a liberdade temporária e o caos que se instalou em São Paulo foi sentida na pele. "Fui parado duas vezes pela polícia. Na primeira, antes de começar tudo, só perguntaram se eu estava livre mesmo. Mas na segunda foi diferente", contou um dos detentos, que se identificou como Ricardo. Ele relatou que aí os policias o xingaram e indagaram diversas vezes se não ajudou nos ataques.

"Os amigos e vizinhos nos conhecem e sabem que não tem nada a ver, mas a polícia não", disse Ricardo, que preferiu lembrar o tempo que passou com a família. "Quando a gente chega em casa é aquela adrenalina. O coração quase sai pela boca."

ESPERA

O comparecimento ao Fórum da Barra Funda, ontem de manhã, foi a maneira que os 25 presos encontraram para comunicar que não fizeram nada de errado. Todos eles deveriam ter partido num ônibus para Pacaembu às 7 horas, mas quando chegaram ao Terminal Barra Funda, por volta das 6h30, todos os assentos já estavam tomados. "Disseram que alguns ônibus saíram antes da hora combinada e quase vazios", contou um dos condenados.

No Fórum, eles foram procurar ajuda para conseguir outro meio de transporte. "Não temos dinheiro para pagar a passagem, mas queremos voltar." Segundo o grupo, mais de 40 homens ficaram sem condução, mas alguns optaram por se apresentar no Presídio de Franco da Rocha, enquanto outros desistiram de voltar à prisão.

Depois de horas de espera, um "bonde" da Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) levou o grupo para a unidade do Belém. Só hoje eles seguiriam para o interior.

No Estado, 12 mil presos receberam indulto para o Dia das Mães. A SAP divulgou ontem o primeiro balanço do retorno dos indultados. Referiam-se apenas aos detentos de Campinas: dos 1.144 beneficiados, 1.040 haviam voltado à prisão. Segundo o juiz-corregedor dos presídios da capital, Carlos Fonseca Monnerat, 768 pediram à Justiça o benefício. Desse total, 196 tiveram o pedido negado.

A polícia suspeita da participação dos indultados nos atentados praticados pelo PCC. Dois deles foram presos anteontem sob a acusação de participação num ataque a uma delegacia e a uma patrulha da PM.

O secretário da SAP, Nagashi Furukawa, afirmou que não via motivo para pedir ao Judiciário que designasse outra data para a saída dos beneficiados, mesmo sabendo que o PCC preparava uma onda de ataques e uma megarrebelião para o fim de semana do Dia das Mães. Para o secretário, a participação desses presos foi "ínfima, desprezível". "São 2 casos num universo de 12 mil presos."

Furukawa afirmou ontem que o Estado tem o total controle sobre a maioria dos presídios. Disse que somente em oito casos, onde os detentos destruíram muito o interior das unidades, o controle ainda não foi completamente retomado. Isso porque não há como manter os detentos trancados nas celas. A reforma começa o estudo da reforma dessas prisões.