Título: Vagas para deficientes
Autor: Celso Ming
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/04/2006, Economia & Negócios, p. B2

Tanto se fez para abrir vagas de trabalho para deficientes que agora faltam deficientes para tanta vaga. Os empregadores se queixam de que não encontram profissionais qualificados para, ao mesmo tempo, satisfazer as exigências da lei e das empresas.

Em 1991, a Lei Federal nº 8.213 determinou que as empresas brasileiras com de 100 até 200 funcionários preenchessem 2% de suas vagas com deficientes. Nas empresas com mais de mil funcionários essa proporção sobe para 5%. Para evitar burlas, em dezembro de 2004, o Decreto Federal nº 5.296 definiu com mais precisão o que deve ser entendido como deficiência. Por exemplo, para ser considerado deficiente auditivo, o candidato à vaga tem de sofrer de perda de audição nos dois ouvidos e não em apenas um deles.

"Antes, as empresas contratavam pessoas que tinham deficiência leve e quem era realmente deficiente não conseguia emprego", explica Fátima Fernandes, supervisora do Programa de Portadores de Deficiência do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE). O CIEE encaminhou 2,5 mil estagiários deficientes a 280 empresas, com média de aproveitamento de 70%.

O Instituto Ethos acaba de divulgar pesquisa respondida por 119 empresas e verificou que 13,6% dos funcionários delas são portadores de deficiência. É um avanço quando comparado com os 3,5% registrados em 2003. No entanto, a presença se afunila à medida que os cargos avançam para o topo dos organogramas das empresas. Há apenas 4,7% de deficientes em cargos de supervisão, 0,4% na gerência e 1,0% no nível executivo.

Mas encontrar gente capacitada para preencher essas vagas é um problema. O banco Itaú tem hoje em seu quadro 1.096 portadores de necessidades especiais, como os chama o diretor-executivo de Recursos Humanos do banco, Fernando Tadeu Perez. "Definitivamente, não é fácil encontrar pessoas assim que estejam aptas a trabalhar." Ainda assim, espera atingir a meta legal de 2.018 funcionários até o fim de 2007.

Uma das explicações para esse problema é a de que o nível de escolaridade dos portadores de deficiência é mais baixo do que a média nacional. Muitos precisam fazer longos tratamentos em hospitais ou clínicas de reabilitação e isso prejudica seu comparecimento a cursos regulares de ensino. É, também, o que leva muitos a abandonar os estudos.

Outra explicação para o problema é a superproteção exercida pela família do deficiente. Em conseqüência disso, a escolaridade vai se atrasando. "Quando estão prontos para buscar espaço no mercado de trabalho, estão velhos demais para os objetivos das empresas", conta Josenildo Nunes, do Instituto Pró-Cidadania, que desde 2002 realiza trabalhos de capacitação profissional de portadores de deficiência.

Instituições como o Pró-Cidadania são uma solução tanto para os deficientes que procuram trabalho como para os empregadores que procuram por eles. Essas instituições não só treinam os deficientes, como também orientam as empresas.

Outra saída para a falta de pessoal deficiente qualificado é a própria empresa se encarregar de capacitar os candidatos. O presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Ethos, Oded Grajew, afirma que as empresas precisam flexibilizar os programas de recrutamento e investir em treinamento. "A empresa que não fizer isso dificilmente preencherá as vagas."

A Federação Brasileira de Bancos (Febraban), por exemplo, coordena um projeto que ministra cursos de microinformática, comunicação e outros serviços bancários. Mas é uma gota d'água para as necessidades desse segmento do mercado: existem no Brasil cerca de 24,5 milhões de portadores de deficiência - 14,5% da população.