Título: Governo tem plano para fatiar Varig
Autor: Isabel Sobral
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/04/2006, Economia & Negócios, p. B1

Idéia é dividir a companhia em duas: uma ficaria com as rotas domésticas e outra com as internacionais

Depois de insistir em que a Varig deveria buscar uma solução de mercado, o governo, principal credor da companhia, trabalha na elaboração de um plano de salvamento. Uma das idéias em discussão, e que contaria com a participação do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), é a divisão da Varig em duas empresas: uma que operaria as rotas domésticas e outra controlando as linhas internacionais.

A nacional, saneada das dívidas, seria leiloada a investidores privados. A internacional arcaria com as dívidas de mais de R$ 7 bilhões, mas também ficaria com os créditos de cerca de R$ 4,5 bilhões que a Varig cobra da União por causa de prejuízos sofridos com planos econômicos do passado. Contaria também com créditos de ICMS, estimados em R$ 1,2 bilhão, de 15 Estados, fruto de ações judiciais.

O ministro da Defesa, Waldir Pires, afirmou ontem que o presidente Lula está "ansioso e preocupado" com o agravamento da crise financeira da empresa. E a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, depois de passar semanas negando a possibilidade de um empréstimo do BNDES para salvar a Varig, admitiu anteontem que a instituição poderá financiar a operação, desde que um novo investidor dê garantias.

O modelo que está sendo desenhado depende da resolução de uma série de questões de ordem jurídica, econômica e política. A idéia tampouco é exatamente nova. Quando o ministro da Defesa ainda era José Viegas, em 2004, integrantes do governo federal chegaram a vazar a minuta de uma medida provisória que determinava a intervenção federal na Varig e a cisão da companhia em duas. Na época, a intenção era entregar a empresa saneada às concorrentes Gol e TAM, mantendo a outra gerida pelo governo.

Agora, o governo trabalha com a idéia de entregar as rotas domésticas para uma terceira companhia, de forma a impedir a alta concentração do setor. A Ocean Air é uma das alternativas em estudo. A empresa já fez propostas para a aquisição da Varig e tem trabalhado com a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) na elaboração de um plano de contingência, no caso de falência.

O juiz da 8ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, Luiz Roberto Ayoub, que conduz o processo de recuperação da Varig, quer fechar até terça-feira, data da próxima assembléia de credores, o desenho de uma proposta de salvamento da companhia. Após encontro com o ministro Waldir Pires e com o diretor-geral da Anac, Milton Zuanazzi, Ayoub reafirmou que a Varig é viável e não há motivos que justifiquem a sua falência. "Se a empresa não se mostra nociva, não há motivo para pedir a sua falência. Soluções há. Então, vamos construí-las", declarou o juiz, que estava acompanhado do presidente do Tribunal de Justiça do Rio, Sérgio Cavalieri.

O juiz se negou, no entanto, a fornecer detalhes da conversa com o ministro. "Tudo está sendo estudado, construído, mas não há propostas concretas. O Judiciário não pode se manifestar sobre elas, quem pode são os credores."

Após o encontro com o juiz, o ministro Waldir Pires declarou: "Estamos construindo uma solução, e esperamos que, com certa rapidez, seja possível tranqüilizar a sociedade brasileira. O que desejamos é que o Brasil continue tendo uma bandeira voando pelos céus do mundo e servindo a população internamente."