Título: 76% dos presos de SP lêem e escrevem
Autor: Renata Cafardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/04/2006, Vida&, p. A23

A taxa de alfabetismo básico e pleno nas cadeias do Estado é maior que a da população brasileira em geral

Os presos paulistas têm níveis de alfabetização maiores que a população da Região Sudeste e do Brasil. Um estudo realizado com 800 presos em 32 presídios do Estado mostra que 76% deles têm nível básico ou pleno em competências de leitura e escrita. No Brasil, são 64% e no Sudeste, 69%.

A pesquisa foi realizada pelo Instituto Paulo Montenegro, um braço social do Ibope, a pedido da Fundação de Amparo ao Preso (Funap), do governo do Estado. Ela revela o índice de alfabetismo funcional da população carcerária e foi organizada de maneira semelhante ao que é feito no País pelo mesmo instituto, desde 2001.

O índice tradicionalmente é dividido em quatro níveis: analfabetismo, alfabetismo rudimentar (considerado analfabeto funcional porque identifica apenas informações explícitas em textos muito curtos), alfabetismo básico (consegue ler textos curtos e sem complexidade) e alfabetismo pleno. As comparações foram feitas entre Sudeste e Brasil porque não havia dados anteriores somente para o Estado de São Paulo.

A maior parte dos presos está no nível básico, são 50% deles. Na população do Sudeste e do Brasil, o índice não chega a 40%. O número dos que são alfabetizados plenamente é parecido entre a população carcerária e a que está fora dos presídios. Há apenas 4% de analfabetos nas prisões, enquanto no Brasil são 7% e no sudeste 5%. Os números medidos pelo Instituto Paulo Montenegro são diferentes dos do IBGE, que indicam 13% de analfabetos no País.

"Eles usam mais a escrita, escrevem bilhetes, cartas para as famílias", diz o educador e doutor em lingüística, que foi consultor da Funap no estudo, Luiz Percival Britto. Segundo ele, o fato de os índices serem melhores entre presos pode ser justificado também pela dinâmica institucional em que vivem. "Há a necessidade, muitas vezes, de saber como está o seu processo ou escrever uma petição de próprio punho", completa o presidente da Funap, Iberê Baena Duarte. O fato de terem mais tempo livre também foi considerado como um dos incentivos à leitura.

CONTRASTES Os resultados da pesquisa contrastam com um sistema carcerário carente de educação formal. Só 35% dos presos disseram já terem freqüentado atividades educativas. Atualmente, há escolas em alguns presídios do Estado, mas nenhuma delas certifica o aluno. Eles apenas são preparados para participar de um exame certificatório de educação de jovens e adultos.

Segundo os especialistas que analisaram a pesquisa, os dados indicam que "a experiência na unidade penal tem efeito sobre o conhecimento de leitura e escrita", mas não devido a processos de alfabetismo escolares. Não há mudanças significativas no desempenho de presos com muitos ou poucos anos de cumprimento da pena.

Durante a divulgação dos números, ontem, o secretário da Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa, defendeu a remissão da pena para presos que estudam. Hoje, ela só existe para quem trabalha.

O estudo também avaliou o desempenho de matemática dos presos, mas não houve grandes diferenças com relação à população do Sudeste e do Brasil em geral. Assim como no País, há 2% de analfabetos em matemática, ou seja, aqueles incapazes de realizar operações básicas, como ler preços ou anotar números de telefone.

A maior parte (49%) deles tem alfabetismo básico matemático e resolve operações usuais de soma, subtração e multiplicação. Outros 27% dos presos têm alfabetismo pleno na área.

A pesquisa do Instituto Paulo Montenegro ainda questionou a população carcerária sobre seus hábitos e interesse por leitura e escrita. E os números também são superiores aos da população em liberdade: 86% dos presos disseram gostar de ler, enquanto no Brasil a taxa é de 68%.

Entre os hábitos mais freqüentes estão escrever cartas (85%), bilhetes (77%) e ler correspondências (88%). Os índices dos que dizem escrever diários ou histórias são de 30% e 50%, respectivamente.

A população carcerária de São Paulo é jovem; 30% dos presos têm entre 18 e 24 anos e 43%, entre 25 e 34 anos. E 33% cursaram apenas até a 4ª série do ensino fundamental.