Título: Aiatolá dá aval a plano de governo iraquiano
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Fonte: O Estado de São Paulo, 28/04/2006, Internacional, p. A18

Líder máximo dos xiitas no Iraque, Al-Sistani recebeu primeiro-ministro e deu apoio à dissolução de milícias, em novo dia de violência no país

Num dia em que os grupos rebeldes voltaram a promover ações de intimidação ao governo, o primeiro-ministro nomeado do Iraque, Nouri al-Maliki, ganhou ontem o apoio do influente grão-aiatolá Ali al-Sistani para seu plano de desmantelar as milícias xiitas. O encontro ocorreu em Najaf, cidade sagrada da comunidade árabe xiita, da qual Al-Sistani é o principal líder religioso no Iraque.

As milícias xiitas, ligadas a partidos e infiltradas nas forças de segurança do país, são responsabilizadas pela intensificação da violência contra árabes sunitas nos últimos meses. A meta de Maliki é integrar esses grupos ao Exército e à polícia, sob a direção de políticos independentes nos Ministérios da Defesa e Interior.

Al-Sistani disse a Maliki que a segurança deveria ser sua prioridade no governo. "As armas deveriam ficar exclusivamente nas mãos das forças do governo e essas forças precisam construir uma base nacional, para que sejam leais ao país e não a grupos políticos ou outras partes", disse Al-Sistani num comunicado distribuído após receber Maliki.

No entanto, o líder da principal milícia xiita, o clérigo radical Muqtada al-Sadr (das Brigadas Mehdi), também se reuniu com Maliki em Najaf, mas não quis comentar o apoio dado por Al-Sistani à política de segurança do governo.

A ação contra as milícias xiitas é fundamental para Maliki obter amplo apoio sunita e assim enfraquecer os grupos rebeldes que tentam minar o novo governo. Esses grupos são majoritariamente sunitas, misto de islâmicos radicais, ex-integrantes dos partidos de Saddam Hussein e nacionalistas contrários à ocupação americana.

Em sua campanha de intimidação contra sunitas que aceitaram participar do governo, rebeldes mataram ontem a irmã do vice-presidente Tariq al-Hashemi, que duas semanas atrás teve um outro irmão assassinado. Militantes dispararam de um veículo em alta velocidade contra o carro de Mayson al-Hashemi, matando também o guarda-costas dela. Na quarta-feira, o vice-presidente se uniu a líderes políticos curdos e xiitas num chamado para que o governo use toda a força necessária para esmagar a insurgência liderada pelos sunitas.

SOLDADOS MORTOS Três soldados italianos e um romeno foram mortos ontem perto de Nassíria, a sudeste de Bagdá, na explosão de uma bomba na passagem de um comboio. O primeiro-ministro eleito da Itália, Romano Prodi, disse que esse ataque não o fará antecipar a saída das tropas, que deve ser concluída até dezembro.