Título: EUA e França exigem ação contra Irã
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Fonte: O Estado de São Paulo, 28/04/2006, Internacional, p. A16

Na véspera de relatório sobre programa nuclear iraniano, aumenta a pressão por um sinal rápido e firme da ONU

Os EUA e a França defenderam ontem que o Conselho de Segurança da ONU se pronuncie sobre a questão nuclear iraniana, diante da recusa desse país em atender à exigência de abandonar seu programa de enriquecimento de urânio.

"Os EUA acreditam que para ser digno de crédito, o Conselho de Segurança tem de agir", disse a secretária americana de Estado, Condoleezza Rice, à margem da reunião de chanceleres da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), na Bulgária. Já o chanceler francês, Philippe Douste-Blaz, afirmou que "diante da atitude de Teerã e a aceleração de seus programas", o Conselho "tem de enviar um sinal rápido e firme".

Embora o Irã assegure que seu programa nuclear é de cunho pacífico, o Conselho teme que seu objetivo, de fato, seja usar parte do urânio enriquecido na fabricação de armas.

É improvável que a Rússia e a China tenham modificado sua oposição à aplicação de sanções ou qualquer insinuação de ação militar contra o Irã. Os dois países, parceiros comerciais dos iranianos, detêm o direito a veto no Conselho (ao lado de França, EUA e Grã-Bretanha).

Hoje a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) - órgão da ONU que supervisiona o uso pacífico da energia nuclear, com sede em Viena - encaminha ao Conselho um relatório decisivo sobre as medidas adotadas pelo Irã para cumprir suas determinações.

Nos meios diplomáticos em Viena é dado como certo que esse informe, elaborado pelo diretor da AIEA, Mohamed el-Baradei, será negativo para o Irã.

Em 28 de março o Conselho estipulou prazo de um mês para o Irã suspender seu programa de enriquecimento de urânio, o que não foi feito. Pelo contrário, o Irã anunciou semanas atrás que havia superado a etapa de pesquisas e passara a produzir urânio enriquecido, como primeiro passo para um programa de escala industrial. Além disso, os líderes iranianos elevaram nos últimos dias a retórica anti-Ocidente e a ênfase em seu direito de dominar todo o ciclo nuclear.

Em novo desafio ao Conselho, ontem o presidente Mahmud Ahmadinejad acusou a AIEA e o Conselho de tomarem decisões injustas. Na quarta-feira, o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, advertiu que se os EUA atacarem o país terão uma resposta em dobro contra seus interesses pelo mundo.

Um vice-chefe do setor nuclear iraniano, Mohammad Saeedi, entregou ontem novos documentos sobre o programa nuclear do país à AIEA, mas parece pouco provável que esse material possa influir positivamente no relatório de Baradei.