Título: ONGs foram criadas no governo Rosinha, acusam deputados
Autor: Alexandre Rodrigues , Fabiana Cimieri
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/04/2006, Nacional, p. A12

Terceirizadoras de pessoal contratadas sem licitação têm sócios em financiadoras de Garotinho

A maioria das organizações não-governamentais contratadas pelo governo do Rio sem licitação por meio da Fundação Escola de Serviço Público (Fesp) foi criada especialmente para contratos de prestação de serviços no início do mandato da governadora Rosinha Matheus. É o que acusam deputados que fazem oposição ao governo da mulher do pré-candidato à Presidência do PMDB Anthony Garotinho, diante da ligação entre as ONGs e os sócios de empresas que doaram pelo menos R$ 400 mil para a pré-campanha do peemedebista.

Segundo dados do Siafem, o sistema de acompanhamento financeiro do Estado, a Fesp já pagou quase R$ 390 milhões a institutos pela terceirização de pessoal e outros serviços para vários setores da administração estadual. Pelo menos três das mais de dez ONGs contratadas desde 2003 estão relacionadas com as empresas que fizeram doações para a pré-campanha de Garotinho à Presidência, estimadas em R$ 650 mil.

Nildo Jorge Nogueira Raja, que aparece como sócio da Emprin Informática, uma das doadoras de Garotinho, é também diretor do Instituto Nacional de Aperfeiçoamento da Administração Pública e do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Treinamento (IBDT). Luiz Antônio Roncoli, sócio da Virtual Line, outra doadora, é diretor do Instituto Nacional de Pesquisa e Ensino da Administração (Inep). Juntas, as três ONGs receberam da Fesp R$ 112 milhões de 2003 até este ano.

O líder do PSDB na Assembléia do Rio, Luiz Paulo Corrêa da Rocha, disse ontem não ter dúvidas de que recursos do governo foram parar na pré-campanha de Garotinho. Para o deputado, a Polícia Federal, que abriu inquérito, não terá dificuldades para investigar o suposto esquema. "Algumas ONGs foram criadas em 2003 somente para prestar serviços à Fesp."

Em Brasília, a governadora Rosinha defendeu seu marido. "Eu não vejo, por exemplo, os grandes meios de comunicação pedirem ao filho do Lula para devolver o dinheiro que não foi lícito", afirmou. "Eu não vejo pedirem às pessoas do mensalão para devolverem o dinheiro."

Procurado pelo Estado, o presidente da Fesp, Paulo Sérgio Marques, só chegou à tarde à fundação, mas não retornou as ligações, sob alegação de que estava em reunião.

IRRITAÇÃO

Garotinho reagiu ontem com indignação à notícia de antecipação da convenção do partido para o dia 13 de maio e prometeu entrar na Justiça para impedir a realização do que classificou como um "golpe" da ala governista contra a sua candidatura. Já enfraquecido pela acusação de ter usado empresas de fachada para financiar a sua campanha nas prévias, ele se considerou atingido pela nova data do encontro, por avaliar que, se for realizado depois, terá mais chance de ser candidato.

"Tudo isso que vem acontecendo é uma perseguição contra mim desde meu crescimento nas pesquisas. Meus adversários, que são poderosos, têm feito uma perseguição implacável contra mim", afirmou ontem, depois de sair de um encontro com prefeitos em Brasília.

Para o deputado Moreira Franco (PMDB-RJ), avalista da filiação de Garotinho à legenda, as denúncias de irregularidades em sua pré-campanha põem em risco "de maneira muito concreta" a idéia de uma candidatura própria do PMDB. "Essa pauta - se tem candidatura ou não - já estava superada e agora volta ao debate." Diferentemente de Garotinho, que tratou a antecipação da convenção como uma irregularidade, Moreira Franco afirmou que a mudança na data é legítima, pois foi assinada por mais da metade dos presidentes de diretórios regionais e mais de dez membros da Executiva Nacional.