Título: Petistas propõem mudar economia
Autor: Wilson Tosta
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/04/2006, Nacional, p. A9

Documento a ser discutido no Encontro Nacional reconhece avanços, mas ataca política do Banco Central

Um documento que exige mudanças na política econômica do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas contraditoriamente comemora alguns de seus resultados, será o ponto de partida para os delegados ao 13º Encontro Nacional do PT desenharem o que esperam de uma eventual segunda administração petista do Brasil. O texto Diretrizes para a Elaboração do Programa de Governo do PT, que será submetido à discussão e votação dos delegados do partido, embora elogie o governo Lula, avalia que sua obra "é ainda parcial, desigual e incompleta". E propõe que uma nova administração reafirme a validade da transição rumo ao desenvolvimento, com mudanças na economia.

Sem se aprofundar na análise da crise vivida pelo partido desde 2005, o embrião de programa, ao falar do governo Lula, divide-se entre a celebração e o fogo amigo. O governo, diz, não foi capaz de traduzir em linguagem de esquerda os avanços "inclusive na política econômica", que, insiste, não continua a de Fernando Henrique Cardoso. Segundo o texto, "estando o País à beira do abismo", a equipe econômica teve de evitar a "catástrofe".

"A inflação foi contida e revertida (...)", afirma. "Iniciou-se um processo de distribuição de renda (...). O País está menos vulnerável do ponto de vista externo, graças ao extraordinário crescimento e diversificação do comércio internacional e outras medidas de política econômica que fizeram com que o risco caísse de 2.400 pontos para pouco mais de 200. O déficit em conta corrente do balanço de pagamentos se transformou em superávit. Diminuiu a dívida externa e alongou-se o seu perfil. A dívida interna foi praticamente desdolarizada, e sua relação com o PIB reduzida. O País pôde saldar antecipadamente todos os seus compromissos com o Fundo Monetário Internacional e prescindir de seu monitoramento."

AUTONOMIA

Dezoito parágrafos depois, após criticar o PT por sua paralisia diante da crise e elogiar o governo, o texto ataca a gestão econômica. "A 'autonomia operacional' do Banco Central, maior do que em períodos anteriores, permitiu uma política monetária, revestida de um discurso conservador, que se chocou, mais de uma vez, com as bases sociais do governo e com o próprio governo", critica. "A taxa de juros básica (...) permaneceu elevada, com forte impacto no aumento da dívida pública e na dinâmica da economia (...). O documento acusa o BC de ter as taxas de juros altas como "únicas soluções" contra a inflação.

O pré-programa propõe a mudança na política econômica, com crescimento acelerado da economia "em níveis qualitativamente superiores aos das últimas décadas, inclusive aos deste governo". E prossegue: "Nesse processo será fundamental a ação de um Estado democratizado e socialmente controlado."

Também prega mudanças no regime de metas de inflação. "O Banco Central, cuja ação tem um impacto decisivo sobre o conjunto do desempenho econômico-social do País, tem de adequar sua agenda ao conjunto dos interesses da sociedade", avalia.

"Uma maior redução da Taxa Selic é essencial para lograr um câmbio mais compatível com as políticas de desenvolvimento e exportação necessárias ao País", reclama. O pré-programa também pede a continuidade "por muito tempo" das políticas de transferência de renda, aprofundamento da reforma agrária e estabelecimento de "metas sociais".