Título: Aval para alianças amplas deve sair
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/04/2006, Nacional, p. A8

Instinto de sobrevivência vai falar mais alto, apesar dos protestos

De olho na promessa do PL de apoiar a reeleição do presidente Lula nos 27 Estados, e nas negociações em andamento com PMDB, PTB e PP em pelo menos 19, o encontro do PT dará o aval para que Lula costure alianças com quem bem entender. Radicais vão chiar e até moderados prometem protestar, mas o instinto de sobrevivência política deve falar mais alto.

A autorização para o vale-tudo - as parcerias sem identidade ideológica - voltará a associar o PT e os partidos carimbados como mensaleiros, PTB, PP e PL, nos palanques estaduais. Por causa da verticalização, todos devem ficar de fora, oficialmente, da aliança nacional, mas seguirão ao lado de Lula em todo o País e mesmo em boa parte das disputas para os governos estaduais. Já no segundo turno, as parcerias seriam oficiais.

Mas o objeto do desejo de Lula é mesmo o PMDB. Para atraí-lo, o PT acena com o apoio a peemedebistas candidatos ao governo de 9 Estados. Os mais encaminhados são Roraima, Amazonas e Tocantins, mas podem progredir negociações em Santa Catarina, Goiás, Paraná, Paraíba, Espírito Santo e Minas.

O presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), alega que é "injusto" culpar um partido inteiro, seja ele qual for, pela crise do mensalão. "O PTB do Roberto Jefferson é o mesmo do ministro do Turismo, Walfrido dos Mares Guia", diz.

A única proibição expressa que deve ser aprovada será para as uniões com os oposicionistas PSDB e PFL. O veto é inócuo, pois a regra da verticalização das alianças já impede que partidos adversários no plano federal façam parcerias nos Estados. Na prática, o tamanho das coligações será uma das poucas polêmicas da reunião.

O senador Eduardo Suplicy (SP) é contra a aliança com partidos do mensalão. E acha que o governo do PT pecou ao compor sua base liberando verbas, cargos e dinheiro para campanhas. "Entre as normas que eu gostaria de ver aprovadas está uma muito importante: que o Executivo dissesse a cada deputado e senador que votasse a favor do interesse público, não por causa de cargos em ministérios, liberação de verba, emendas e muito menos de pagamento de gastos de campanha ou coisas desse tipo."

Suplicy acredita que o PT deve fazer coligações em torno de "programas de governo e procedimentos éticos". Isso significa "aliança preferencial com os partidos que têm objetivos comuns, como PC do B e PSB", insistiu. Para ele, até uma eventual aliança com o PMDB deve ser "mais bem discutida", já que o partido tem várias alas.

Membro da CPI dos Correios, o deputado José Eduardo Martins Cardozo (PT-SP) concorda. "Devemos ter um rol de alianças mais restritivo do que até agora. Temos um candidato forte que, neste momento, precisa de um programa de governo mais compactado, com forças políticas progressistas para o enfrentamento da crise."

Coordenador do Grupo de Trabalho Eleitoral, Gleber Naime, está otimista. Apesar da crise do mensalão, acredita na manutenção das bancadas federais e estaduais e na eleição de pelo menos três governadores, nos Estados comandados pelo PT, Mato Grosso do Sul, Piauí e Acre. "Podemos surpreender em outros Estados, como Mato Grosso", afirmou.