Título: Lula pede carta branca ao PT, que inicia hoje seu 13º Encontro Nacional
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/04/2006, Nacional, p. A8

Presidente participa da abertura da reunião e avisa que decisão sobre coligações "não pode ser unilateral"

Quase um ano depois do escândalo do mensalão, que dizimou a cúpula petista e jogou o governo em sua maior crise, o PT inicia hoje seu 13º Encontro Nacional, na capital paulista, enquadrado pelo Palácio do Planalto e com a missão de definir as diretrizes previamente acertadas com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o programa da campanha à reeleição.

Lula participará da abertura do encontro e já avisou que quer carta branca para firmar alianças amplas, incluindo na lista todos os partidos envolvidos no escândalo, como PL, PTB e PP, da base governista.

"O PT tem de levar em conta as coligações que temos de construir e o que pensam os nossos aliados", disse Lula. "Não pode (a decisão) ser uma coisa unilateral do PT." Ele afirmou, porém, que não vê problemas à vista. O capítulo das alianças é um dos poucos pontos polêmicos da megarreunião, que será realizada na quadra do Sindicato dos Bancários, com 1.200 delegados.

"Eu vou lá como Lulinha paz e amor, até porque é o primeiro encontro nacional que o PT faz desde que sou presidente", contou Lula. O último foi em Olinda (PE), em 2001, quando o partido pregou a ruptura com o modelo econômico adotado pelo PSDB. Seis meses depois, em plena campanha, o discurso radical foi revogado na Carta ao Povo Brasileiro, que prometeu preservar o superávit primário.

Desta vez, o próprio Planalto agiu para que não haja mudanças de rota. A não ser que algo fuja do script, a direção do PT combinou tudo com o governo para que os debates petistas, de hoje a domingo, não provoquem turbulências na maratona pela reeleição de Lula.

Apesar da insistência da facção Democracia Socialista, a cúpula conseguirá barrar o acerto interno de contas com dirigentes e parlamentares envolvidos no escândalo que aniquilou o discurso da ética do partido. "Não é hora de promover uma caça às bruxas", afirmou o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP). "Precisamos construir um ambiente de unidade e ninguém até agora assumiu a destinação pessoal dos recursos (do valerioduto). Não havendo prova, trata-se de uma ilegalidade eleitoral, de caixa 2, e cada um deve arcar com o que fez perante a Justiça Eleitoral."

TRANSATLÂNTICO

Mesmo as críticas à política econômica, apesar de constarem no documento Diretrizes para a Elaboração do Programa de Governo do PT, não são tão contundentes como nas agitadas reuniões do passado. O tiroteio foi mais dirigido ao Banco Central, à política monetária e à autonomia operacional da instituição, considerada "maior do que em períodos anteriores".

"O que nos une é a reeleição do Lula", admitiu o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, que é filiado ao PT. "Eu acho que em time que está ganhando não se mexe: a política econômica é vitoriosa, trouxe benefícios para a população e aumentou as condições para investimentos no Brasil."

Questionado se no eventual segundo mandato de Lula poderia haver inflexão na economia, Bernardo disse que não se trata de guinada, mas de acelerar o crescimento. "Sempre houve a expectativa de que não se daria cavalo-de-pau no transatlântico, mas se faria uma mudança gradualmente", argumentou.

Para Francisco Campos, coordenador do encontro, a queda do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, "apesar de lamentável", acabará ajudando a reduzir o clima de confronto previsto para a reunião.

"A saída do Palocci e a entrada do Mantega ajudam a desanuviar o encontro porque tiram do centro do debate a proposta de déficit nominal zero e põem no lugar a necessidade de mais crescimento com geração de emprego", disse Campos, numa referência ao novo ministro da Fazenda, Guido Mantega.

Na prática, o PT tem o difícil desafio de defender o governo e, ao mesmo tempo, cobrar alguma inflexão no discurso econômico, ainda que pequena, para atender sua base social.