Título: Durante o interrogatório, calma e respostas para tudo
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/04/2006, Nacional, p. A4

Embora tivesse o direito constitucional de ficar em silêncio, Palocci não se esquivou de nenhuma pergunta

O ex-ministro da Fazenda parecia tranqüilo quando chegou à polícia e manteve o comportamento calmo durante todo o interrogatório a que foi submetido em uma sala apertada e abafada, sem ar-condicionado. Respondeu às perguntas pausadamente, não se esquivou de nenhuma delas, embora tivesse o direito constitucional de ficar em silêncio. Ele próprio, por meio de sua defesa, procurou espontaneamente a polícia de Ribeirão Preto oferecendo-se para prestar depoimento.

Não mudou o tom nem quando o delegado Amarildo Fernandes o indagou sobre seu patrimônio. "Quais são os seus bens?", perguntou o policial. "Tenho uma casa em Ribeirão Preto", disse Palocci. "Comprei quando foi feito o loteamento da área. Construí a casa e fiquei com o terreno ao lado. Tenho um Vectra 99 e um Toyota Corolla 2005, que é usado por minha mulher. E tenho um quarto de um terreno de usufruto de minha mãe, herança de meu pai, também em Ribeirão."

Explicou que a Lei Orgânica do Município de Ribeirão dá autonomia às empresas públicas e autarquias, a exemplo das outras cidades e dos Estados. "As autarquias têm independência para realizar licitações, celebrar e executar contratos de obras e fornecimento de bens, e para fazer a verificação e conferência sobre a prestação de serviços", assinalou Palocci. "Também têm autonomia para efetuar os pagamentos."

Palocci destacou que a concorrência e o contrato da varrição do lixo com a Leão Leão foram efetuados na administração que o antecedeu, de Luiz Roberto Jábali (PSDB). "Não assinei contrato com a Leão Leão."

Admitiu que esse contrato teve continuidade em seu governo, mas por meio de prorrogação e aditamentos firmados pelo Departamento de Água e Esgotos de Ribeirão Preto (Daerp). "Não tenho conhecimento de nenhuma irregularidade", disse. Palocci declarou que, como médico sanitarista, adotou política pública de combate a focos de epidemia, entre os quais o da dengue. Para reforçar seu argumento, observou que, no início da semana, a Justiça de Ribeirão autorizou arrombamento de residências para extinção do mosquito.

Alegou que, ao assumir o cargo, em janeiro de 2001, a prefeitura mantinha em atividade o Programa Cidade Limpa, por meio do qual contratava diretamente associações de bairros para que tais entidades recrutassem pessoal para varrição de ruas e praças. Esse sistema, informou, não tinha amparo na legislação e acabou gerando uma onda de ações trabalhistas contra a prefeitura. "Mais de uma centena de ações", disse. "Como acabei com o sistema paralelo de limpeza, o Daerp assumiu todo o serviço e houve um aumento do trabalho."

Fez companhia a Palocci na audiência o criminalista José Roberto Batochio, seu defensor. "O indiciamento é um absurdo jurídico, uma heresia porque não há nada que aponte na direção de Palocci como autor de desvio de verbas ou lavagem de dinheiro", reagiu Batochio.