Título: BNDES pode ter linhas especiais para exportador
Autor: Paula Puliti
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/04/2006, Economia & Negócios, p. B13

Ministro Luiz Fernando Furlan diz que o objetivo é ajudar empresas a enfrentar desvalorização do dólar

O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, disse ontem que sua equipe tem se reunido com representantes de setores exportadores prejudicados pelo câmbio para buscar alternativas, em conjunto com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), de aporte de recursos de financiamento. "A idéia é auxiliar as empresas a passar pelo período de aperto", afirmou o ministro, ao comentar os efeitos da continuada valorização do real sobre as vendas externas.

Segundo o ministro, estão sendo analisados pedidos de aumento do financiamento pré-embarque em reais com taxa de juros de longo prazo (TJLP) ou outras modalidades que serão formatadas para os diferentes setores, quando necessário. O governo também estuda enquadrar pequenas e médias empresas nas linhas de financiamento de capital de giro. "Podemos agir enquadrando as empresas nos programas já existentes, mas podemos também formatar novas medidas com programas específicos para os setores", ressaltou o ministro.

Os setores calçadista e automotivo já se beneficiam de programas especiais de financiamento, mas o ministro preferiu não enumerar outros setores que estejam pedindo ajuda do BNDES para superar o período de câmbio valorizado. Furlan afirmou apenas que se encontrou com representantes do setor moveleiro e esse é um setor que poderia se beneficiar de programas especiais de financiamento. O ministro conversou ontem com representantes do setor têxtil, cujas exportações também estão desacelerando.

Ontem o presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), Josué Gomes da Silva, disse que nenhuma medida consegue amenizar os problemas provocados pelo câmbio sobre a competitividade das exportações brasileiras. Ele ressaltou que nos últimos 12 meses o real se valorizou em mais de 20%, enquanto as moedas dos principais concorrentes do País no mercado externo mantiveram suas cotações ou até se desvalorizaram em elação ao dólar. Ele fez o comentário logo após o anúncio do ministro Furlan, de que o BNDES estuda linhas especiais para exportadores em dificuldades.

O empresário, filho do vice-presidente José Alencar e presidente da Coteminas, ressaltou que é muito difícil para o empresário brasileiro superar a valorização do câmbio em um ambiente em que os insumos, sobretudo os preços administrados, sobem muito acima dos índices de inflação. "A energia industrial é um exemplo", afirmou. Segundo ele, quando se transforma o valor dos reajustes em dólar por megawatt/hora tem-se um aumento de tarifa entre 35% e 40%.

Gomes da Silva admitiu que parte da valorização do real é reflexo do cenário externo positivo, que beneficia as commodities exportadas. Mas ressaltou que parcela importante se deve aos juros "despropositados" praticados no País, que achatam o mercado interno, puxam as importações e "atraem capital especulativo".