Título: 'Não haverá dinheiro público'
Autor: Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/04/2006, Economia & Negócios, p. B6

Lula nega ajuda, mas admite crédito do BNDES

O presidente Lula reiterou ontem que o governo não colocará dinheiro público na Varig, mas admitiu que poderá haver ajuda do BNDES para financiar investidores interessados em adquirir a empresa. "Eu tenho dito publicamente que o governo não vai colocar dinheiro público (na empresa). O que podemos fazer é financiar a salvação da Varig, desde que a Varig cumpra o seu papel." O presidente não deu detalhes da hipotética operação de salvamento.

As declarações de Lula fizeram as ações da Varig disparar. As poucas ações preferenciais em negociação na Bovespa chegaram a subir 53%. Os papéis encerraram o dia com alta de 33,62%, cotados a R$ 1,55.

Em entrevista durante visita ao feirão da Casa Própria da Caixa Econômica Federal, Lula disse ainda que o esforço do governo para salvar a Varig tem como principal razão o fato de a empresa ser um símbolo brasileiro. " A Varig, como outras empresas no Brasil, virou uma espécie de paixão nacional. Mas estas coisas não se tratam com o coração, estas coisas você trata com a racionalidade de uma empresa privada que tem problemas e precisa encontrar uma solução de acordo com as leis de mercado."

Para Lula, a crise da Varig não é novidade, pois a empresa enfrenta uma situação delicada há tempos. Ele também elogiou a proposta de divisão da Varig em duas empresas, uma nacional, sem dívidas, e outra com as operações internacionais, qu está sendo costurada pelo juiz da 8ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, Luiz Roberto Ayoub. "Essa proposta me agrada."

As declarações do presidente representam uma nova atitude do governo e se somam às da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Depois de semanas insistindo em que o governo não tinha nada a fazer pela Varig, na terça Dilma passou a defender uma solução com participação oficial.

O discurso de "solução de mercado" marcou o diálogo entre o governo e a empresa nos últimos dois anos, desde o fracasso da proposta de fusão entre a Varig e a TAM. A proposta era defendida com afinco pelo então chefe da Casa Civil, José Dirceu. Com o fracasso da fusão, Banco do Brasil, Infraero e BR Distribuidora passaram a apertar o cerco de cobranças contra a empresa.

Tratativas de acelerar o encontro de contas - entre o que a Varig deve e uma indenização à qual ela tem direito, por causa de planos econômicos passados - tampouco foram adiante, apesar do empenho do ex-ministro da Defesa José Alencar.