Título: CPI dos Sanguessugas já tem assinaturas; Planalto trabalha contra
Autor: Cida Fontes e Denise Madueño
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/05/2006, Nacional, p. A4

Com o apoio de 229 deputados e 31 senadores, a oposição apresentou ontem requerimento para a instalação da CPI dos Sanguessugas, destinada a investigar o esquema de fraude em licitações e compra superfaturada de ambulâncias para municípios com recursos do Orçamento da União. O governo, contudo, vai trabalhar para impedir a abertura da comissão. É que a maior parte dos envolvidos pertence a partidos da base aliada.

"A oposição vai querer usar a CPI para desgastar a relação da base com o governo", afirmou o senador Tião Viana (PT-AC), dando a senha de que o Palácio do Planalto não tem interesse nas investigações. Coube a Viana, como primeiro vice-presidente do Senado, receber o requerimento para a instalação da CPI mista.

"Acho que este é um ano complicado para uma CPI", argumentou o petista. "Além disso, qual a condição que a Câmara tem de fazer uma investigação, quando as suspeitas recaem sobre tantos nomes daquela Casa?"

A quantidade de suspeitos na Câmara é o principal fator a inibir a investigação, admitem até oposicionistas. Em tom de brincadeira, o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), disse que o número de deputados supostamente envolvidos é suficiente até para eleger o presidente da Casa. "Assim não dá para investigar."

O deputado Chico Alencar (PSOL-RJ), porém, não pensa assim. Para ele, nem mesmo a proximidade das eleições deve ser obstáculo para a investigação. "Temos de exercer o mandato até o fim e isso significa investigar esse escândalo", disse. Ele defendeu a proposta de que a CPI trabalhe nestes cinco meses que antecedem as eleições adotando um caráter técnico e fugindo de disputas partidárias.

MALA E CUIA

"Quero comissão interna, externa, da sociedade civil, do Ministério Publico, quero tudo que possa investigar", afirmou o deputado Raul Jungmann (PPS-PE). "O que eu não suporto é abrir o jornal e ler que na Casa onde trabalho tem gente recebendo dinheiro em mala, em cuia, meia, cueca."

Só 2 dos 16 deputados investigados pela comissão de sindicância da Corregedoria da Câmara assinaram o requerimento para instalação da CPI: João Correia (PMDB-AC) e Maurício Rabelo (PL-TO). Esse grupo é o que está em situação mais delicada, por ser composto por parlamentares que receberam dinheiro em suas contas particulares ou tiveram assessores favorecidos com depósitos.

Único senador citado no relatório da Polícia Federal como suspeito de ser beneficiário do esquema, o líder do PMDB no Senado, Ney Suassuna (PB), não assinou a criação da CPI. Suassuna teve até um assessor de seu gabinete preso na Operação Sanguessuga da PF. Segundo assessores palacianos, a estratégia a ser seguida pelo governo é desidratar a lista de parlamentares que apoiaram a criação da CPI. Para que a comissão seja instalada, são necessárias 171 assinaturas na Câmara e 27 no Senado. Bastaria, portanto, subtrair quatro nomes da lista do Senado para frustrar sua abertura.