Título: No exterior, ata desperta dúvidas
Autor: Thiago Velloso, André Palhano
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/04/2006, Economia & Negócios, p. B4

Mas maioria acha que há indicação de desaceleração na queda do juro

O tom mais conservador da ata do Comitê de Política Monetária (Copom), que pegou boa parte dos mercados de surpresa, ainda está sendo digerido pelos analistas de bancos estrangeiros. As reações iniciais indicam uma divisão. Alguns já reduziram suas apostas de um corte de 0,75 ponto porcentual para 0,50 ponto na Selic em maio, outros ainda aguardam novos indicadores para fazer previsões. No entanto, a avaliação de que o Banco Central sinalizou uma desaceleração no ciclo de relaxamento monetário é unânime.

Michael Gavin, estrategista para América Latina do UBS, interpretou a ata como "sinal de pausa no processo de queda de juros após um corte de 0,50 a 0,75 ponto porcentual" em maio. "Com a atividade econômica se recuperando, acreditamos que o BC terá condições de fazer uma pausa no processo de relaxamento enquanto avalia o impacto dos cortes já efetuados na Selic sobre a economia."

Luis Cezário, economista do HSBC, que antes da ata apostava em corte de 0,75 ponto porcentual, disse que "o próximo passo do Copom é uma questão aberta" e ficará mais dependente dos próximos indicadores. "Enquanto isso, o tom conservador exibido na ata sugere que a probabilidade de um corte menor, de 0,50 ponto, na próxima reunião do Copom aumentou", disse Cezário.

Nuno Camara, economista sênior do Dresdner Kleinwort Wasserstein, manteve sua aposta de corte de 0,75 ponto em maio, mas observa que a possibilidade de redução menor aumentou. "A ata mostra que o cenário geral para o crescimento e a inflação não mudou mas o BC deve ser conservador por natureza e a ata do Copom reflete isso", disse Camara.

O Banco Espírito Santo manteve sua previsão de corte de 0,75 ponto na Selic em maio. "A nossa expectativa da Selic de 14% em dezembro de 2006 continua mantida, mas a distribuição e magnitude dos cortes futuros dependerão da evolução dos indicadores", afirmaram os analistas do banco português.

O Credit Suisse também não alterou sua aposta de corte de 0,75 ponto em maio, que levaria a Selic a 15%, nível mais baixo em mais de 30 anos, mas alerta para a possibilidade de redução menor. "As principais razões são um cenário muito positivo para a inflação nesse segundo trimestre e os substanciais fluxos de moeda estrangeira para o País, que ajudam a manter o real estável."