Título: Dólar fecha no menor valor em 5 anos; em 4 meses, caiu 10,24%
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/04/2006, Economia & Negócios, p. B3

Para alguns analistas, o comercial pode ficar abaixo de R$ 2 em breve

O dólar comercial fechou ontem no menor patamar dos últimos cinco anos, abaixo dos R$ 2,10. Foi a terceira queda consecutiva da moeda americana, que terminou o mês de abril cotado em R$ 2,087 - recuo de 0,86% em relação ao dia anterior. De janeiro até agora, a moeda caiu 10,24% e, no período de um ano, 18,25%. Com o desempenho de ontem, o mercado já começou a trabalhar com a possibilidade de o comercial romper a barreira dos R$ 2 ainda neste semestre.

Entre os fatores que pressionaram a moeda americana está o discurso do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Ben Bernanke, sinalizando que o aperto monetário dos Estados Unidos está perto do fim, afirmou o gerente de Câmbio da Corretora Souza Barros, Marcos Forgione. Apesar de a ata da última reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) também ter indicado que o aumento forte do juro básico está praticamente descartado, o mercado andava em dúvida por causa dos últimos indicadores americanos divulgados na semana passada, como o Índice de Preços ao Consumidor (CPI), que veio acima das expectativas, e os dados da construção civil, aquém do esperado.

Enquanto isso, no cenário interno, a sinalização do Comitê de Política Monetária (Copom) foi de que o juro básico deve cair numa velocidade mais lenta do que se imaginava. Com isso, a possibilidade de um recuo de 0,75 ponto porcentual na próxima reunião fica mais distante.

Os analistas já começaram a trabalhar com um corte de 0,5 ponto, que reduziria a Selic para 15,25% ao ano. Esse fato, aliado às perspectivas quanto aos juros americanos, colaboram para elevar o volume de investimento estrangeiro no País, diz Forgione. "No curto e médio prazos, a tendência é de queda do dólar. Até porque o governo já sinalizou que não vai interferir no câmbio."

O economista da Ágora Sênior, Flávio Serrano, afirma que além do volume de investimentos, direto ou em Bolsa, o fluxo comercial é bastante elevado. Junta-se a isto o fato de as empresas brasileiras estarem com maior facilidade para se financiarem no exterior. Tudo isso eleva o volume de oferta da moeda americana no mercado e reduz a cotação.

A consultoria Austin Rating, por exemplo, refez suas previsões em relação ao câmbio para este ano com base no novo patamar do dólar e no cenário macroeconômico favorável ao financiamento da economia brasileira. A projeção da taxa de câmbio para dezembro caiu de R$ 2,30 para R$ 2,20.

A opinião sobre a valorização do real, porém, não é compartilhada por todos. "A moeda caiu muito hoje (ontem). Acho que o piso foi exagerado", avaliou um operador, apostando que na próxima semana a moeda deverá se recuperar.