Título: Anvisa decide montar força-tarefa
Autor: LEONENCIO NOSSA, EMÍLIO SANT'ANNA
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/04/2006, Vida&, p. A22

Como parte dos funcionários mantém paralisação, agência tenta normalizar distribuição de medicamentos

Os dirigentes da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e os representantes dos servidores formalizaram ontem uma trégua na greve até o dia 8. A agência também montou uma força-tarefa para o Rio e São Paulo. Servidores da agência, inclusive profissionais deslocados de Brasília, vão trabalhar hoje, domingo e segunda-feira em esquema de plantão para agilizar os processos de fiscalização e liberação de produtos. A Receita Federal e os agentes da Infraero também participarão.

Pelo levantamento feito pelo Sindicato Nacional dos Servidores das Agências reguladoras federais (Sinagências), que controla a maioria dos sindicatos da categoria, 98% dos funcionários do órgão retornaram ao trabalho. "Se o governo não conceder a equiparação salarial entre servidores antigos e novos vamos voltar a fazer greve", afirmou o presidente do Sinagências, João Maria Medeiros.

Ele ressaltou que o movimento não atingiu postos importantes da Anvisa, como os de instalados no Porto de Paranaguá, em Foz do Iguaçu e em Uruguaiana. "Espero que o governo dê rapidez ao processo de negociação para que uma nova greve não tenha impacto no Mercosul", salientou. Os três postos citados têm ligação com os países vizinhos do Cone Sul.

"Praticamente, já não existe mais greve na Anvisa", avaliou Medeiros. O gerente-geral da área de Vigilância Sanitária de Portos Aeroportos e Fronteiras, Paulo Ricardo Santos Nunes, por sua vez, disse que o diálogo está aberto. Nunes não estimou quanto o governo pode gastar na equiparação de salários, principal reivindicação dos sindicalistas.

Ele disse que a força-tarefa montada para desbloquear produtos retidos em Santos vai agir independentemente dos debates com os sindicalistas. Na cidade do litoral paulista a greve continua. Apesar de o sindicato da categoria em São Paulo ter sido notificado sobre a decisão da juíza substituta da 2ª Vara Federal de Santos, Marcelle Ragazoni Carvalho, obrigando a volta imediata ao trabalho sob pena de multa diária de R$ 10 mil, a greve será mantida, no mínimo até segunda-feira.

A multa não parece preocupar a direção do sindicato estadual. "Apesar da decisão em Santos, temos uma liminar nacional que nos garante a continuidade da greve", afirma Deise Lúcia do Nascimento, diretora do Sindicato dos Trabalhadores em Saúde e Previdência no Estado de São Paulo (Sinsprev). "Já fomos multados em R$ 5 mil por dia de paralisação e não temos como pagar. Vamos recorrer."

A nomeação de Oacy Toledo, funcionária da Anvisa, como coordenadora da força-tarefa em Santos, irritou o sindicato. "Nenhum produto perecível está sendo retido", garante Deise.

A interventora, como é vista pelo sindicato, tem a missão de organizar a liberação dos produtos em uma semana. "Trabalharemos neste fim de semana e no feriado", diz. Para os que não vêem sua nomeação com bons olhos, ela avisa: "Sou apenas uma funcionária da Anvisa e estou cumprindo ordens."

LENTA NORMALIZAÇÃO

No Estado de São Paulo, a situação já voltou ao normal em pelo menos três hospitais. O Hospital das Clínicas, um dos primeiros a sofrer com o desabastecimento, recebeu ontem kits para diagnóstico de aids e hepatite C. Os exames estavam suspensos desde segunda-feira. O número de kits é suficiente para três meses.

O Hospital Estadual de Bauru, que chegou a cancelar quatro cirurgias no início desta semana, recebeu anteontem a quantidade de sangue que faltava do Hemocentro de Bauru - o banco de sangue também foi reabastecido com kits de diagnóstico. O Hospital Sírio Libanês acaba de receber os equipamentos para a nova UTI pediátrica, como aparelhos de ventilação mecânica. A inauguração foi adiada por causa da greve.

Já na Santa Casa, os estoques de kits para diagnóstico de aids e hepatite C, de quimioterápicos e contraste radiológico, são suficientes para durar mais 15 dias. Caso não seja abastecido, o hospital vai cancelar os transplantes.