Título: Lembo reclama da falta de apoio do PSDB na crise
Autor: Clarissa Oliveira e Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/05/2006, Nacional, p. A6

O governador de São Paulo, Cláudio Lembo, disse ontem que não tem tido apoio do PSDB na crise envolvendo o PCC e a segurança pública, mas procurou tratar o fato com naturalidade. Segundo ele, esse é um momento que não deve incluir discussões partidárias e no qual a responsabilidade deve ser assumida pela pessoa responsável pelo governo. "O PSDB é um partido e os partidos não devem ingressar em situações tão difíceis como essa", disse Lembo, em São Paulo. "Em um momento difícil, um governo que é presidencialista fica sozinho", completou.

De acordo com Lembo, o ex-governador Geraldo Alckmin entrou em contato com ele por telefone três vezes nos últimos dias para conversar sobre a situação. Mesmo assim, Lembo reconheceu que respondeu duramente a declarações do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que comentou em Nova York a suspeita de um acordo do governo com a facção criminosa PCC. "Não houve acordo com bandido, eu nunca fiz acordo com bandido. E respondi duramente pois acho que não se pode, a distância, num país estrangeiro, falar sobre assuntos internos brasileiros tão graves."

Lembo aproveitou para caracterizar como "dramática" a notícia do vazamento de informação da CPI do Tráfico de Armas para advogados do PCC. Além disso, voltou a dizer que não se arrepende da forma como conduziu até agora a crise paulista. Questionado sobre se estuda a possibilidade de aceitar ajuda das Forças Armadas, caso a situação se agrave nos próximos dias, voltou a dizer que a presença do Exército nas ruas é desnecessária. "O Exército não tem condições de lutar contra o crime organizado."

Ele elogiou a forma como o governo federal vem contribuindo para solucionar a crise, mas não deixou de atacar o Executivo na questão da segurança pública. "O governo federal, neste momento, está agindo nos seus limites", disse, acrescentando que o presidente Lula "tem sido o que deve ser". "Eu diria que o governo federal foi omisso no passado quando não passou verbas do fundo penitenciário, não construiu uma penitenciária no Estado de São Paulo, não transferiu nenhuma verba de segurança . Aí ele foi incompetente e irresponsável."

QUEIXAS

Em Brasília, a cúpula do PFL foi mais dura nas queixas ao alegado abandono do PSDB em relação a Lembo. "Esta falta de solidariedade me preocupa", afirmou o líder pefelista no Senado, José Agripino (RN), para quem as relações entre os parceiros da aliança precisam passar "por uma reciclagem urgente".

"O governador expressou o que está sentindo e eu sou solidário a ele", resumiu o presidente nacional do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), certo de que o relacionamento entre PFL e PSDB vai melhorar ao longo da campanha. "Se a relação não está ideal, vai ficar", afirmou. Há no PFL o reconhecimento de que Lembo enfrenta um "stress intenso" por conta da crise.