Título: Sem-terra ocupam praça de pedágio e Incra no Paraná
Autor: Miguel Portela
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/05/2006, Nacional, p. A10

Cerca de 100 integrantes do Movimento de Libertação dos Sem-Terra (MLST) invadiram ontem a praça de pedágio da BR-277 em Cascavel, a 500 quilômetros de Curitiba. O grupo, dissidente do Movimento dos Sem-Terra (MST), reivindica a atualização dos índices de produtividade para fins de reforma agrária, a revogação da medida provisória que impede vistorias em áreas invadidas, além de pressa no assentamento de 300 famílias acampadas na BR-369, entre Cascavel e Corbélia.

A ocupação foi das 8 às 16 horas e não houve violência, segundo a Polícia Militar. Nesse período, os manifestantes abriram as cancelas e realizaram uma coleta de dinheiro entre os motoristas que passaram por ali.

"O que houve foi uma coleta espontânea. Quem quisesse ajudar o movimento colaborava", assegurou Jocélia de Oliveira Costa, coordenadora estadual do MLST no Paraná.

A Rodovia das Cataratas, concessionária da BR-277, informou que acionou a Justiça para responsabilizar os manifestantes pelos prejuízos causados com a liberação das cancelas. O valor, no entanto, não foi divulgado pela empresa.

INCRA

Em Francisco Beltrão, a 450 quilômetros de Curitiba, um grupo de assentados invadiu na noite de terça-feira a sede do Incra na cidade, reivindicando a liberação de recursos e a assinatura de concessões de terra. Ontem, o órgão continuava fechado.

As famílias, filiadas ao MST, pertencem ao Assentamento João de Paulo, a cerca de 25 quilômetros de Francisco Beltrão, que está sendo montado pelo Incra. O órgão federal esperava fechar um acordo com os trabalhadores rurais ainda ontem para a desocupação do prédio.

O chefe do escritório regional do Incra em Francisco Beltrão, Carlos Carbone, afirmou que a ação era pacífica. Os integrantes do MST prometeram permanecer no local até que houvesse uma definição sobre os pedidos encaminhados.

DESOCUPAÇÃO

No município de Feira Nova, a 77 quilômetros do Recife, a tropa de choque da Polícia Militar cumpriu ordem de reintegração de posse da Fazenda Barros, emitida pelo juiz Milton Santana em favor do dono da área, Ricardo Adalto. Ao todo, 300 famílias de agricultores ligadas ao MST foram despejadas da fazenda.

Segundo a Agência Brasil, a Fazenda Barros estava ocupada desde 12 de abril, como parte das manifestações da Jornada Nacional de Luta por Terra promovida pelo MST.

O Estado foi um dos que mais registraram invasões este ano, como parte do "2006 vermelho" - denominação dada pelo MST à onda de ocupações que promoveu para forçar o andamento da reforma agrária e chamar a atenção das autoridades para reivindicações de pequenos agricultores no País.

O grupo do MST que invadiu a fazenda alegava que a propriedade era improdutiva. Eles haviam plantado feijão, milho, batata e mandioca no local e conseguiram do juiz responsável pelo despejo a garantia de que essas lavouras não serão danificadas.

De acordo com declarações do coordenador regional do MST, Josias Barros, os trabalhadores foram surpreendidos com a chegada dos policiais militares. Ele diz que os soldados já entraram no local com tratores e usando de violência para derrubar os barracos de lona.

Barros contou que uma negociação com o comandante da tropa da PM evitou que a desocupação terminasse em confronto. O líder sem-terra alegou que a liminar deveria ter sido emitida pela Justiça 48 horas antes da execução da ação de despejo, para que os agricultores tivessem tempo de preparar a mudança.