Título: Valerioduto teria financiado quatro imóveis de Janene
Autor: José Antonio Pedriali
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/05/2006, Nacional, p. A11

A Polícia Federal encontrou "indícios" de que o dinheiro do valerioduto repassado ao deputado José Janene (PR), que liderava o PP na Câmara, foi utilizado por ele na compra de uma propriedade rural, na aquisição de dois terrenos num condomínio de luxo e na construção da uma casa, de mil metros quadrados, nesse terreno. A casa, segundo a PF, é avaliada em mais de R$ 2 milhões. A CPI dos Correios apurou que Janene recebeu R$ 4,1 milhões do valerioduto, esquema de propina montado pelo publicitário Marcos Valério e integrantes da cúpula do PT.

Nove mandados de busca e apreensão foram cumpridos ontem pela PF - cinco em Londrina, onde Janene reside, três em São Paulo e um em Barueri. A operação, chefiada pelo delegado Gerson Machado, apreendeu documentos e computadores no escritório do deputado e na residência de dois funcionários dele - Rosa Alice Valente e de seu marido Meheidin Hussein Jenani, primo de Janene.

Os dois e a mulher de Janene, Stahel Fernanda, vinham sendo investigados há dois anos, a pedido do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf ), por suspeita de lavagem de dinheiro e crime contra o sistema financeiro porque movimentavam valores incompatíveis com seus rendimentos.

Segundo o delegado, as investigações conduziram a parte dos recursos que a corretora Bônus Banval, que intermediava o dinheiro do valerioduto para o PT, havia depositado nas contas de Rosa e de Stahel Fernanda. E também a depósitos na conta de Meheidin feitos por uma offshore do Panamá, por ordem da Taha Administração e Construção, de São Paulo, e de uma corretora de Barueri. A PF apreendeu documentos na Taha.

Documentos de uma construtora londrinense foram apreendidos devido à suspeita de que a construção da casa de Janene tenha sido financiada pelo valerioduto. A prova mais incriminadora contra ele - que, no entanto, não é citado no inquérito por ter foro privilegiado - é um cheque assinado por Rosa Valente e utilizado como parte do pagamento de 10 alqueires em Faxinal (PR), adquiridos em nome de Stahel Fernanda. A transação foi escriturada no valor de R$ 60 mil, mas a propriedade custou R$ 120 mil - R$ 110 mil pagos em dinheiro e R$ 9 mil com o cheque de Rosa -, como consta do termo de compra e venda, assinado por Meheidin como intermediário do negócio.

O delegado afirma não poder informar o total movimentado nas contas dos três investigados. "Alguns milhões", limitou-se a dizer.

Advogados de Janene questionaram no Supremo Tribunal Federal a realização das buscas. O ministro do STF Cezar Peluso rejeitou o pedido para que fosse suspensa a operação, chamada de "arbitrária" e "injusta" pelo advogado Adolfo Góis.