Título: País recebe extratos de Maluf em paraíso fiscal
Autor: JAMIL CHADE
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/04/2006, Nacional, p. A16

Documentos foram entregues ontem à embaixada brasileira em Londres

Começa oficialmente a caça ao dinheiro do ex-prefeito Paulo Maluf. As autoridades de Jersey entregam depois de cinco anos de negociações e processos judiciais os extratos do ex-prefeito ao governo brasileiro. A Corte de Justiça do paraíso fiscal iniciou os procedimentos legais depois que uma ação civil foi impetrada a pedido do governo brasileiro.

Uma vez concluído, o processo poderia resultar na devolução de cerca de US$ 110 milhões depositados em contas do ex-prefeito na ilha, dinheiro que já está bloqueado.

Maluf, depois de manter contas em Genebra por mais de dez anos, teria transferido seus recursos para Jersey. Segundo o banco UBS, na cidade suíça, o ex-prefeito foi indagado sobre a origem de seu dinheiro e, diante da falta de resposta, o banco sugeriu a seu cliente que buscasse outra praça financeira para depositar os recursos no fim da década de 90.

A pedido do Ministério da Justiça, Jersey entregou ontem à Embaixada do Brasil em Londres, um CD-ROM com os extratos das movimentações financeiras de quatro empresas envolvendo o ex-prefeito. A informação no CD-ROM é equivalente a 70 volumes de documentação bancária.

Jersey também entregou pastas com outros dados à representação brasileira na capital britânica. Segundo estimativas das autoridades brasileiras, em 15 dias essa documentação estará no Brasil e servirá para que a Justiça determine origem, rota e destino dos recursos supostamente desviados por Maluf.

Enquanto isso, em Jersey a ação civil tenta recuperar o dinheiro do ex-prefeito. O Ministério da Justiça e promotores em São Paulo fizeram diversas viagens à ilha e a Londres para tentar obter de Jersey uma cooperação nas investigações. Depois de muita relutância por parte do paraíso fiscal, o processo foi finalmente iniciado.

Mas aí foi a vez de os advogados de Maluf tentarem bloquear o andamento da cooperação. Há cerca de um mês, as autoridades de Jersey negaram definitivamente as ações dos representantes de Maluf, esgotando em Jersey todos os caminhos jurídicos que existiam para impedir o envio da documentação ao Brasil.

DOCUMENTOS

Para a Justiça brasileira, os documentos vão não apenas confirmar a existência do dinheiro de Maluf, mas também revelar qual teria sido a origem e eventuais beneficiários dos recursos. Os promotores brasileiros já contam com os documentos enviados pelos bancos suíços sobre o ex-prefeito, mas como o dinheiro já não estava no país, ficaria difícil traçar a rota do dinheiro.

Além dos extratos, outra ação do governo brasileiro é a de tentar repatriar o dinheiro, que é o que começou a ser feito nesta semana. Com a ação civil na corte de Jersey, os bancos implicados na suspeita terão de dar respostas à Justiça sobre a origem dos recursos. Maluf também terá de dar sua versão sobre as acusações das quais é alvo.

Enquanto isso, os ativos do ex-prefeito continuarão bloqueados em Jersey. William Bailache, procurador da ilha, já informou aos promotores brasileiros que existem indícios claros de que os recursos, de cerca de US$ 110 milhões, seriam resultado de corrupção.

As quatro empresas relacionadas a Maluf que possuem contas em Jersey são a Durante Internacional, Kildare Finance, Macdoel Investment e Sun Diamond.

Essas empresas e as movimentações do ex-prefeito estão sendo investigadas também nos Estados Unidos pelo promotor de Justiça, Adam Kaufman. Ele também investiga o caso do Banestado, além das movimentações do publicitário Duda Mendonça