Título: 'CIA tem de acertar mais', diz Hayden
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/05/2006, Internacional, p. A12

Primeiro militar da ativa nomeado para dirigir a CIA, Agência Central de Inteligência, em três décadas, o brigadeiro Michael V. Hayden disse ontem, durante sua sabatina de confirmação do Senado, que se empenhará em restaurar a desmoralizada agência de espionagem dos Estados Unidos. Para Hayden, a CIA perdeu o papel central ocupado no pós-Segunda Guerra: a coleta e a análise de inteligência para o governo americano. Num reconhecimento implícito dos erros que a CIA cometeu - de não antecipar o colapso da União Soviética, no final dos anos 80, a garantir à Casa Branca que o Iraque tinha armas de destruição em massa, não encontradas depois que a informação foi usada para justificar a invasão do país, em março de 2003 - Hayden afirmou que a agência precisa "acertar com mais freqüência, mas com tolerância para a ambigüidade e a discordância manifestadas com clareza".

"Precisamos ser transparentes sobre o que sabemos, o que avaliamos ser a verdade, e o que simplesmente não sabemos."

Ao mesmo tempo, acusou os políticos de terem transformado a CIA em tema de suas disputas. "Respeitosamente, senadores, creio que a atividade de inteligência tornou-se a bola do jogo no discurso político americano", disse. "Em anos recentes, a comunidade de informações e a CIA sofreram inúmeros ataques, alguns justos, muitos deles não."

O general, que dirigiu durante cinco anos a supersecreta Agência de Segurança Nacional (NSA), até assumir o posto de subdiretor nacional de inteligência da Casa Branca no mês passado, anunciou que pretende fazer uma "dramática" atualização da capacidade tecnológica da agência de espionagem. "A CIA precisa sair do noticiário, como fonte ou assunto, e focalizar a proteção do povo americano por meio da obtenção de segredos e do fornecimento ( ao governo) de análise de alta qualidade".

Sob intenso interrogatório de senadores democratas, ele defendeu o programa secreto de monitoramento de ligações sem autorização judicial ordenado pelo presidente George W. Bush e conduzido pela NSA, dizendo se tratar de atividade legal. "Nós sempre balanceamos privacidade e segurança, garantiu".

Hayden recusou-se a discutir em sessão pública perguntas sobre a extensão deste e de outros programas instituídos pela administração republicana em nome da proteção dos EUA de novos ataques terroristas. À tarde, a sabatina de Hayden continuou, em sessão a portas fechadas.

Num gesto calculado para remover obstáculos à confirmação de Hayden pelo Senado - que parece assegurada - e apaziguar vários membros da bancada conservadora na Câmara dos Representantes, revoltados com a maneira humilhante com que Bush demitiu o ex-deputado republicano Porter Goss da direção da CIA, há duas semanas, para abrir o caminho para Hayden, na quarta-feira a Casa Branca realizou uma sessão secreta para informar os congressistas dos dois partidos sobre alguns dos programas secretos de vigilância eletrônica conduzidos pelo governo.

O motivo foi a revelação, na semana passada, de que a NSA estava rastreando milhões de chamadas telefônicas, inclusive domésticas, no país, numa possível violação das leis de proteção da privacidade dos cidadãos.