Título: Encontro reúne Dirceu e os envolvidos no mensalão
Autor: VERA ROSA, MARIANA CAETANO e WILSON TOSTA
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/04/2006, Nacional, p. A6

Bem-humorado, ex-ministro foi receber o presidente; na platéia, estavam deputados que escaparam da cassação, como João Paulo Cunha

Quando a mesa de autoridades presentes ao 13º Encontro Nacional do PT foi composta, às 18 horas de ontem, um grito surgiu no plenário: ¿Chama o Zé!¿ Era uma referência ao ex-ministro e deputado cassado José Dirceu, sentado numa das primeiras fileiras da platéia, em meio aos militantes. Era apenas mais um ¿ os principais acusados de envolvimento no escândalo do mensalão estavam todos lá ¿, mas foi certamente o que mais chamou atenção, principalmente depois que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em seu discurso, avisou: ¿Está aqui nosso companheiro Zé Dirceu.¿

Foi quando recebeu muitos aplausos e algumas vaias, abafadas pelos gritos de ¿Zé Dirceu é meu amigo, mexeu com ele, mexeu comigo¿. Encerrada a sessão, o ex-ministro ficou 25 minutos recebendo cumprimentos e tirando fotos com militantes, numa espécie de desagravo.

Denunciado como ¿chefe da quadrilha¿ pelo procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, Dirceu recebeu Lula na entrada da quadra do Sindicato dos Bancários. Bem-humorado, ria muito. Antes de entrar, conversou com ele, o vice-presidente José Alencar e o líder do Governo no Senado, Aloizio Mercadante (SP). Falou pouco com repórteres. ¿Os dirigentes do PT vão falar¿, disse, elogiando o presidente.

Passaram pela reunião os deputados petistas João Paulo Cunha (SP) e Professor Luizinho (SP), absolvidos pela Câmara, Josias Gomes (BA), que recebeu dinheiro do valerioduto e ainda não foi julgado, e Paulo Rocha, que renunciou ao mandato com receio de ser cassado pelo plenário. Outro atingido pela crise, o ex-presidente do PT José Genoino, não apareceu.

EMENDA

João Paulo avaliou que o PT não deve acatar a emenda em que a facção Democracia Socialista propõe que o Diretório Nacional abra Comissão de Ética para todos os acusados. Desde a eclosão da crise, só ex-tesoureiro Delúbio Soares foi expulso. ¿Eu já fui punido demais, já paguei e fui absolvido¿, disse.

No discurso, Lula se emocionou ao dizer que faltava ¿um companheiro¿, o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, e também citou Genoino e Luiz Gushiken, outro atingido pelos escândalos. Disse que os petistas devem se preparar para receber o julgamento do povo e da Justiça, mas não podem aceitar o julgamento de adversários.

¿Vou dizer mais: é preciso levantar a cabeça para não ter vergonha do debate ético. Não podemos permitir que os setores mais conservadores venham nos dar lições de ética. Porque um companheiro nosso, qualquer que seja, na dúvida, é nosso companheiro. E este partido já deu provas de que sabe tratar essas questões com mais grandeza.¿