Título: Paulo Bernardo defende BC de fogo amigo de petistas
Autor: Wilson Tosta, Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/04/2006, Nacional, p. A5

Ministro ri ao comentar críticas aos juros altos contidas no pré-programa de governo que será votado pelo PT

O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, ironizou ontem as críticas ao Banco Central (BC) e à política econômica contidas no documento "Diretrizes para a Elaboração do Programa de Governo", que será votado hoje pelo 13º Encontro Nacional do PT, em São Paulo. Em tom de brincadeira e entre risos, Bernardo disse que o texto foi feito em conjuntura diferente sem ser atualizado e assumiu a defesa do BC que, na sua opinião, faz um "excelente" trabalho, com ótimos resultados.

"Vamos deixar o Banco Central trabalhar", pediu. "Para que ficar fungando no cangote dos caras?"

No pré-programa de governo, que será submetido a discussão e emendas dos 1.200 delegados petistas, o Banco Central é duramente criticado, entre outros motivos, por seguir a política de juros altos e o regime de metas de inflação que, segundo o documento, fizeram a economia crescer menos, com graves conseqüências sociais. "É uma bobagem deixar isso no texto", atacou Bernardo, pouco depois de chegar à quadra do Sindicato dos Bancários, onde se realiza o evento petista.

Em sua defesa intransigente do BC, o ministro afirmou que a renda do trabalhador aumentou. O ministro também ironizou os pedidos para que o Banco Central seja parcimonioso em sua política. "Já viu o Banco Central agir sem parcimônia?", perguntou.

Para Bernardo, a taxa de juros não será tema central da campanha de 2006, a não ser na discussão sobre como fazê-la baixar a níveis de 6%, 7% anuais, com crescimento econômico. "A taxa de juros garantiu a credibilidade e eliminou a vulnerabilidade externa", disse. "Em 2002, a vulnerabilidade externa era um fetiche para os petistas."

Bernardo lembrou alguns números positivos da economia, como o risco país em torno de 220 pontos, e declarou que o Brasil atravessará o período eleitoral com esses indicadores. Afirmou, porém, que é preciso continuar as reformas, não deixando o déficit da Previdência se expandir ainda mais e não tomar nenhuma atitude que passe ao mercado a idéia de imprevisibilidade. "Na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), prevemos déficit nominal de 1,3%, 1,4% em 2009. Com um pouquinho de esforço, podemos zerá-lo. A relação dívida/PIB poderia cair para 40%." O ministro reconheceu que o BC seguiu uma política monetária muito dura porque a inflação saía do controle e a relação dívida/PIB era de 62%. O BC agiu por causa disso, explicou ele, defendendo o trabalho autônomo da instituição.

CRISE

Segundo o ministro, a conjuntura política e econômica sofreu mudança profunda desde dezembro de 2005. "A crise teve um auge, em outubro, novembro, depois começou a esvaziar", declarou. "Teve um recrudescimento com o caso do caseiro mas se esgotou. A convocação extraordinária do Congresso mudou a agenda." Bernardo elogiou o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, que denunciou 40 pessoas, entre petistas, ex-petistas e ex-integrantes do governo federal, como envolvidos nos escândalos de corrupção, mas pediu que sejam respeitados o direito de defesa e os prazos legais.

"O povo não está mais falando em crise", disse. "A crise está esvaziando, o PFL e o PSDB é que ficam falando." Bernardo lembrou que não há encontro do PT que não seja polêmico, mas disse que a reunião aberta ontem prometia ser "muito tranqüila" para o padrão petista. O ministro também se declarou contrário à reabertura das investigações internas sobre o envolvimento de petistas nos escândalos do governo Lula, como os pagamentos ilegais a parlamentares.

"Por que o PT vai ficar se auto-açoitando, se tem processo, se as pessoas estão sendo acusadas na Justiça? E vamos lembrar um princípio caro à democracia: as pessoas são inocentes até prova em contrário. Não tem por que o PT fazer isso, até porque seria o partido amarrar uma bola de ferro nos pés quando está sendo atacado pelos outros", declarou Bernardo, que também pediu a separação do que é denúncia real e do que é denuncismo. "Tem gente que senta em cima do próprio rabo e fica mostrando o rabo dos outros", atacou.