Título: Irã pode permitir inspeções da AIEA
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Fonte: O Estado de São Paulo, 30/04/2006, Internacional, p. A16

Funcionário iraniano diz, no entanto, que o país não abandonará o enriquecimento de urânio e manterá pesquisas

Em uma aparente tentativa de impedir que seu programa nuclear seja alvo de sanções no Conselho de Segurança da ONU, um alto funcionário iraniano disse ontem que o governo de Teerã está disposto a permitir as inspeções de suas instalações. A condição seria o envio do caso de volta à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), o órgão da ONU responsável pelo uso pacífico da tecnologia nuclear. O funcionário iraniano, no entanto, ressaltou que o enriquecimento de urânio continuará.

De acordo com Mohammed Saeedi, vice-chefe para questões nucleares do Irã, as inspeções poderiam ser feitas sem aviso prévio. Saeedi declarou também que o Irã continuará trabalhando para instalar duas novas cascatas de 164 centrífugas em sua usina de enriquecimento de urânio em Natanz, na região central do país.

Cientistas iranianos estão estudando centrífugas mais avançadas que as declaradas pelo presidente Mahmud Ahmadinejad semanas atrás. Os novos equipamentos acelerarão o processo de enriquecimento. "Nossos esforços buscam chegar a máquinas mais desenvolvidas como na Alemanha, Holanda, Japão e Brasil", disse Saeedi.

O chanceler russo, Sergei Lavrov, pediu ontem a seu colega iraniano, Manuchehr Mottaki, que suspenda os trabalhos de enriquecimento de urânio. "O lado russo reitera que há uma necessidade urgente de que o Irã tome passos concretos para restaurar a confiança em seu programa nuclear, suspendendo suas pesquisas científicas e de exploração no enriquecimento de urânio e por meio de uma cooperação total com a AIEA", disse Lavrov.

O presidente iraniano reiterou ontem que seu país não renunciará jamais a seu programa nuclear, apesar da ameaça de imposições de sanções pelo Conselho de Segurança. "A decisão do Irã de controlar a tecnologia nuclear e a de produção de combustível nuclear é irreversível", garantiu.

Na sexta-feira, o diretor da AIEA, Mohamed El-Baradei, entregou ao Conselho de Segurança um relatório certificando que o Irã não suspendeu o enriquecimento de urânio como pediu o órgão da ONU. O Irã insiste que apenas está utilizando seu direito soberano para a produção de energia, não de armas atômicas.

A atual crise começou em 2003, quando técnicos da AIEA descobriram que o país mantinha um programa secreto há 18 anos. Desde então, as dúvidas do Ocidente sobre as reais intenções do Irã aumentaram. As negociações que se seguiram não deram resultado e a questão foi parar, no começo deste ano, no Conselho de Segurança da ONU, o órgão com poder de impor sanções. Até agora, China e Rússia impedem a imposição de medidas fortes contra o Irã.