Título: US$ 900 milhões para garantir abastecimento
Autor: Lu Aiko Otta e Leonardo Goy
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/05/2006, Economia & Negócios, p. B1

A Petrobrás deverá gastar até US$ 900 milhões para evitar um déficit de gás natural no País em 2009, resultante da suspensão de seus investimentos na expansão do gasoduto Brasil- Bolívia. A estatal previa a expansão do duto como forma de atender a uma demanda excedente de 15 milhões de m3 por dia a partir de 2009, mas cancelou o empreendimento em vista da recente crise com a nacionalização das reservas bolivianas.

Segundo o diretor-financeiro da Petrobrás, Almir Barbassa, a melhor alternativa para atender a esta demanda sem precisar do gás da Bolívia é a instalação de três unidades de regaseificação de gás natural liquefeito (GNL). Cada uma das unidades , diz, será capaz de processar entre 5 e 8 milhões de metros cúbicos por dia e exige investimentos entre US$ 100 milhões e US$ 300 milhões.

"O custo das unidades vai depender de uma definição da empresa sobre o tipo de planta, se ela vai ser fixa ou flutuante", disse Barbassa após participar do 17º Congresso Nacional de Executivos de Finanças, promovido pelo Instituto Brasileiro de Executivos de Finaças (Ibef).

Ainda segundo ele, a idéia é que as usinas funcionem de forma que possam ser interrompidas, garantindo segurança para usinas termoelétricas e, portanto, só sendo utilizadas se houver necessidade de ativá-las por causa de uma redução nos reservatórios de água das usinas hidrelétricas.

Barbassa não confirmou a informação dada esta semana pelo diretor de Gás e Energia da estatal, Ildo Sauer, sobre a localização das unidades.

Segundo Sauer, elas seriam instaladas em Suape (PE), Pecém (CE), na Baía da Guanabara (RJ) e São Francisco do Sul (SC). "Nada ainda está acertado, mas certamente estes planos serão incluídos no planejamento estratégico da Petrobrás a ser divulgado em junho."

Para o diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), Adriano Pires, a crise na Bolívia apenas elevou o risco de apagão no País num curto período. Segundo ele, sem lastro, as térmicas não poderiam ser acionadas emergencialmente e, mesmo que fossem, não seriam suficientes para atender a demanda no caso de o País ter um crescimento do PIB acima dos 4% anuais que são esperados pelo governo federal.

Se crescesse a um ritmo de 5% ao ano, diz Pires, o déficit de energia beiraria os 3 mil MW médios. "Para evitar que isso ocorra, o governo precisa eliminar as restrições que hoje impedem a implementação de projetos de geração de energia. Temos barreiras ambientais e burocráticas que hoje tornam inviável uma série de empreendimentos de importância vital para o crescimento do País."

Na avaliação do diretor do CBIE, um aumento de US$ 2 - como está sendo sugerido pelo governo boliviano - no custo por milhão de BTUs exportado para o Brasil, não teria um impacto significativo para o gás automotivo ou residencial, provocaria um aumento superior a 30% nas indústrias. No caso das usinas térmicas, o reflexo de uma alta pode ser ainda maior, já que o combustível representa dois terços do custo da energia gerada.

Mesmo assim, lembra o analista, o custo é menor do que queimar óleo diesel. Ele não informou qual seria o custo da energia gerada a partir da queima do diesel, mas analistas de mercado estimam que este custo chegaria a R$ 500 por MWh.