Título: FMI prevê dificuldades e a Bolívia reage
Autor: João Caminoto
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/05/2006, Economia & Negócios, p. B3

A nacionalização do gás e do petróleo na Bolívia poderá ter conseqüências econômicas potenciais de maior abrangência, segundo o novo diretor de Relações Externas do Fundo Monetário Internacional, Masood Ahmed. Ele lembrou que nos próximos seis meses vão ocorrer negociações entre o governo boliviano, de um lado, e empresas estrangeiras sobre a futura situação dessas companhias, incluindo indenizações. "Será importante que essas negociações cheguem a um acordo que permita a continuidade dos fluxos de capital estrangeiro que a Bolívia necessita de modo crítico", acrescentou.

"Dependendo de como o assunto for tratado, poderá haver um impacto na disponibilidade de capital privado doméstico e estrangeiro para investir no setor de hidrocarbonetos, que é uma importante parte da economia boliviana", afirmou. Uma equipe do FMI está visitando a Bolívia e deverá fazer uma avaliação mais detalhada sobre o caso.

Em La Paz, o ministro da Fazenda, Luis Arce, disse que o FMI não pode sugerir que a Bolívia negocie com as empresas nacionalizadas. "É uma decisão do governo boliviano negociar ou não negociar com qualquer empresa.

O FMI não tem um programa de crédito com a Bolívia. O presidente Evo Morales não quis renovar o acordo que expirou dia 31 de março.

Ahmed também afirmou que a volatilidade nos mercados internacionais serviu para mostrar com mais clareza os riscos que ameaçam a estabilidade financeira global.

"Embora os movimentos tenham sido até agora ordeiros e dentro da faixa normal de flutuação dos mercados, eles apontam para os tipos de riscos que têm sido mencionados pelo Fundo Monetário", disse. O FMI vem afirmando há tempos que os mercados emergentes precisam aproveitar o ambiente benigno dos mercados externos - marcado por uma elevada liquidez, pequena aversão ao risco e preços altos das commodities - para acelerar suas reformas estruturais. Em diversas ocasiões, diretores do Fundo alertaram que diante de uma reversão no cenário externo, considerada por muitos inevitável, aqueles países cujos fundamentos econômicos não foram fortalecidos nos últimos anos poderão ser punidos.

O Fundo tem manifestado também preocupação com os desequilíbrios na economia americana, principalmente o seu enorme déficit em conta corrente, e o ritmo lento da valorização da moeda chinesa.

EQUADOR

O governo da Bolívia elogiou a decisão do Equador de rescindir o contrato da petrolífera americana Occidental Petroleum. que explorava o produto na região amazônica, alegando irregularidades técnicas. O ministro do Planejamento, Carlos Villegas, disse que se trata de uma decisão soberana para recuperar os recursos naturais.

Segunda-feira, a justiça equatoriana cancelou o contrato com a Occidental por considerar que a empresa americana violou o acordo de exploração ao transferir, sem comunicar ao Estado, 40% de suas ações ao grupo canadense EnCana, que em fevereiro vendeu sua participação no consórcio à empresa chinesa Andes Petroleum.