Título: País ainda quer mudança no PT, revela pesquisa
Autor: Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/04/2006, Nacional, p. A6

Levantamento da Fundação Perseu Abramo, ligada ao partido, mostra que 59% da população acredita que renovação após a crise foi insuficiente

No 13º Encontro Nacional e perto de completar o ano mais difícil de sua história, o PT descobre que terá de mudar mais se quiser sobreviver ao escândalo do mensalão. É o que se pode deduzir dos resultados de uma pesquisa nacional da Fundação Perseu Abramo - mantida pelo partido -, realizada entre os dias 10 e 16 de março.

De 2.379 entrevistados em 153 municípios, 59% acreditam que as alterações internas sofridas pelo PT após a crise política foram insuficientes. Dentro desse universo, 34% acreditam que as mudanças foram verdadeiras, mas não bastam. Para 25%, a reforma foi só na fachada, para fingir que o partido mudou.

A pesquisa deve ser apresentada amanhã, no debate sobre a construção partidária, no Sindicato dos Bancários, onde se reúnem 1.200 delegados do PT. No total daqueles que consideraram a reciclagem interna real, mas insatisfatória, 46% são simpatizantes do partido.

Das respostas dos entrevistados, o PT extraiu uma fotografia dos efeitos do mensalão e pistas a seguir na próxima campanha. "O PT e o Lula perderam o pilar da ética como diferencial, mas seu prestígio segue bom porque a imagem sobre os outros governos sempre foi muito ruim", resume Gustavo Venturi, coordenador da pesquisa e diretor da Criterium, empresa que recolheu os dados. "Além disso, a decepção é insuficiente para derrubar o apoio ao governo, por causa da sua atuação na área social."

A população não percebe o governo Lula como o mais corrupto da história do País, ressalta Venturi. O campeão de menções, com 71%, foi o governo Fernando Collor. Lula detém o segundo lugar, com 39%. Já o governo tucano de Fernando Henrique Cardoso tem 32%.

Um dado foi especialmente comemorado pela Executiva Nacional petista, que recebeu os primeiros números da pesquisa no fim de março. Para 69% dos entrevistados, existe corrupção na maioria dos governos, "até mais nos governos de outros partidos". Segundo 15%, o escândalo não foi um caso isolado, mas acontece "principalmente nos governos do PT". Apenas 5% acreditam que o ocorrido foi um caso isolado, que aconteceu somente no governo Lula.

A metade dos entrevistados está convencida de que o presidente sabia a respeito do dinheiro repassado pelo PT a aliados. Somente 29% sustentam que Lula não sabia do mensalão.

"O levantamento indica que a maioria da população, 51%, acredita que houve mensalão e caixa 2, e não há diferença entre os dois", explica Venturi. "Para 25%, o que aconteceu foi o mensalão, para 10%, houve apenas caixa 2."

Como bússola para a campanha de reeleição de Lula, a pesquisa indica trunfos e pedras no caminho, respectivamente os programas sociais, como Bolsa Família, e os problemas de sempre, desemprego, segurança e saúde. Feita antes da queda de Antonio Palocci do Ministério da Fazenda, a pesquisa traz poucas novidades sobre a aprovação do governo Lula: 32% fazem avaliação positiva, 44%, regular e 22%, negativa. "O levantamento mostra que metade dos brasileiros recebe o Bolsa Família ou conhece alguém que recebe", disse o presidente do PT, Ricardo Berzoini. "A pesquisa não teve objetivo eleitoral, mas mostra que há bons carros-chefes à campanha."

Quase um ano depois de ter estourado o escândalo do mensalão, parece irônico para os petistas saber que 73% dos brasileiros esperavam que Lula acreditasse mais no apoio popular que tinha quando foi eleito. Assim, não teria ficado tão dependente de outros partidos. Mas, contraditoriamente, os entrevistados também reconhecem a necessidade de alianças no Congresso para governar, o pano de fundo do escândalo.