Título: PT aprova alianças amplas para tentar eleger Lula no 1.º turno
Autor: Vera Rosa, Wilson Tosta, Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/04/2006, Nacional, p. A4

Objetivo principal do presidente é um acordo com o PMDB, que pode ficar sem candidato próprio

Depois de muita polêmica, o 13º Encontro Nacional do PT aprovou ontem autorização para que o partido feche alianças eleitorais amplas, mesmo com os partidos envolvidos no escândalo do mensalão, como o PTB de Roberto Jefferson, o PL de Valdemar Costa Neto e o PP de José Janene. Para conseguir que o plenário desse sinal verde para coligações fora das fronteiras da esquerda no palanque do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à reeleição, o antigo Campo Majoritário teve de ceder: nos Estados onde houver impasse, as alianças terão de passar pelo crivo do Diretório Nacional.

Foram vetadas apenas as parcerias com o PSDB e o PFL, dupla carimbada como "núcleo da oposição conservadora" que o PT deve derrotar. O presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), disse que também há "grande restrição" a alianças com o PPS, partido que defende o impeachment de Lula.

"Queremos alianças programáticas, com participação nos governos, e não oportunistas", afirmou Berzoini. O encontro do PT decidiu ainda que Berzoini será o coordenador-geral da campanha de Lula à reeleição.

A votação sobre a política de alianças ocorreu por levantamento de crachás. Dos cerca de 1.200 delegados presentes à quadra do Sindicato dos Bancários, no centro de São Paulo, 80% autorizaram o PT a abrir o leque das coligações na eleição presidencial, rejeitando propostas apresentadas para reeditar a frente Brasil Popular e restringir as parcerias ao PC do B e ao PSB, tradicionais aliados.

"Vai ser muito constrangedor defender coligação com o PTB", insistiu o secretário-geral do PT, deputado Raul Pont, numa referência ao autor das denúncias sobre o mensalão, que foi cassado pela Câmara. "É possível nos apresentarmos no palanque com Jefferson, Costa Neto, Janene?", questionou Pont, da Democracia Socialista. Costa Neto renunciou para evitar a cassação; o processo contra Janene corre no Conselho de Ética da Câmara.

OPÇÕES

Embora nenhum partido tenha sido citado na emenda, a lista daqueles com que o PT pode se unir inclui o PMDB, um sonho petista para tornar mais próxima a vitória de Lula já no primeiro turno. Na tentativa de atrair o PMDB e costurar uma rede de apoio ao presidente em vários Estados, o PT também pode sacrificar candidaturas em locais onde suas chances de vitórias são quase zero, como Santa Catarina, Goiás e Paraíba.

Na prática, o PL, o PTB e o PP não apoiarão formalmente Lula, mas farão alianças brancas. Não querem casar de papel passado com o PT porque, solteiros no plano nacional, ficam livres para fazer as coligações estaduais que bem entenderem.

Antes da votação, Berzoini defendia casamentos eleitorais ainda mais abertos, com aval do Planalto. O texto aprovado, porém, autoriza o Diretório Nacional a "analisar e decidir, caso a caso, as alianças com partidos da base do governo, bem como a apreciar recursos" nos Estados, quando houver impasse.

O presidente do PT nega que isso signifique um recuo. "O PT é um partido que tem base e não pode se dar ao luxo de tomar decisões precipitadas, fechar portas e fixar parâmetros absolutos em relação à eleição. O que nos interessa é o convencimento político dos militantes."

Parra Markus Sokol, da facção O Trabalho, ao aceitar alianças amplas o PT põe mais lenha na fogueira da crise, "que vive do balcão de negócios".

Marcelo Déda, ex-prefeito de Aracaju e candidato ao governo de Sergipe, rebateu com veemência as críticas dos companheiros para quem o PT autorizou alianças com partidos do mensalão. "O risco desse tipo de reducionismo é dizer que o Brasil é a democracia do mensalão", protestou. "Não peçam que às vésperas de uma eleição o PT se transforme numa academia ou numa igreja: seremos, sim, um partido disputando o poder numa democracia."

VALE

À noite, o encontro do PT rejeitou uma proposta apresentada pela deputada Doutora Clair (PR) que previa a reestatização da Companhia Vale do Rio Doce, privatizada em 1997, no governo Fernando Henrique Cardoso. Foram 358 votos contra a emenda ao documento Diretrizes do Programa de Governo, 305 a favor e 2 abstenções.

"Independentemente de reverter ou não a privatização, é preciso lembrar que a venda foi um processo muito nebuloso", afirmou Berzoini, autor da proposta contrária à reestatização. O plenário também rejeitou projeto de emenda que propunha a estatização da Varig.