Título: Políticos estavam na mira do PCC
Autor: Rita Magalhães
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/05/2006, Metrópole, p. C1

Policiais revistam quem estava no enterro de WesleyUm dos objetivos do Primeiro Comando da Capital (PCC) era matar políticos e, principalmente, agentes e diretores de presídios, na maior onda de atentados registrada no País. No segundo dia de ataques, líderes da facção ordenaram de dentro da prisão ao exército de soldados:

"Não pára por aqui. Levanta aí, procura levantar onde tem, onde mora agente penitenciário, diretores (de presídio) e políticos. É pouca idéia. O negócio é botar pra arrebentar, a ordem é matar sem dó", diz Cabeça, Ney ou Cérebro, um preso do interior, ao falar com um soldado da zona norte da capital.

A ordem para a matança dessas autoridades foi frustrada. Por determinação da Secretaria de Segurança Pública, todos os departamentos de elite da Polícia Civil estão nas ruas. "Os ladrões estão enterrados (sumidos). Mas quando começarmos a prender, vamos prender de dúzia", disse um investigador.

A conversa entre integrantes do PCC, interceptada na madrugada de sábado, deixa claro que o soldado acabou de matar duas pessoas, provavelmente policiais, com dois comparsas:

Soldado - Deixa eu te falar a fita. Sabe quem fechou com nós, mano? O Moinha, mano. Ele pilotou... Eu, ele e o Fabinho. Nós fizemos um esquema ali certinho. Já era. Caiu (sic) dois.

Preso - Amanhã tem mais.

O soldado aproveita para pedir punição para o mau desempenho de um dos homens:

Soldado - Deixa eu te passar uma fita. O Titi vai passar, mas deixa eu adiantar. O gigante lá, mano, lamentável: 90. O Titi deu a peça (arma) na mão dele e ele deu pro Fabinho, irmão.

Cabeça - É. Deu para o Fabinho?

Soldado - É.

Cabeça - Que isso?

Soldado - Tô falando, irmão. Ele queria ficar só dentro do carro, no carro quente, mano. Foi o maior desacerto, já era pra gente estar em casa há maior cara e tamo chegando agora.

Preso - Pode falar pra ele que amanhã tem mais. Ou amanhã ele puxa o bonde, ou vai tomar 90 (dias de suspensão). Vai tomar 90 não, vai ser logo excluído. Porque o salve (a ordem) foi bem claro: os irmãozinhos que não pá nessa situação aí vai pagar é com a vida, certo mano?

Em meio à tensão desde sexta-feira, policiais vasculham tudo. Pouco depois de o caixão do estudante Wesley Rodriguero, de 17 anos, baixar ontem, seis policiais chegaram ao Cemitério de Vila Formosa e revistaram 20 pessoas. Rodriguero é um dos 107 mortos pela polícia que, oficialmente, resistiram à prisão. Seus parentes, porém, contam que, na terça-feira, ele foi atingido três vezes pelas costas ao fugir de um tiroteio.