Título: Acusado se contradiz e fala em conspiração do PFL
Autor: Mariângela Gallucci
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/05/2006, Metrópole, p. C4

O advogado Sérgio Weslei da Cunha atribuiu ontem a uma armação política orquestrada pelo PFL a acusação de que comprou e repassou ao Primeiro Comando da Capital um CD com depoimentos sigilosos de delegados à CPI do Tráfico de Armas. A gravação detalhava planos da polícia de transferir líderes da facção criminosa e, ouvida em 40 presídios por meio de uma audioconferência, deflagrou a onda de violência em São Paulo. "É tudo armação. O deputado Moroni Torgan, presidente da CPI, é do PFL do Nordeste. O vice de Alckmin é de lá. O calcanhar-de-aquiles de Alckmin é a segurança pública. Eles queriam desviar o foco", disse.

Na terça-feira, o funcionário da Câmara Arthur Pilastre Silva afirmou que vendeu por R$ 200,00 a íntegra do depoimento prestado em sessão secreta pelo diretor do Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic), Godofredo Bittencourt Filho, e pelo delegado Ruy Ferraz. De acordo com o funcionário, o depoimento foi repassado em um shopping center de Brasília, onde um cartão para gravações digitais foi convertido em CD, e entregue a Cunha e a Maria Cristina de Souza Rachado, advogada do líder do PCC Marcos Williams Herbas Camacho, o Marcola. Na terça-feira, Cunha e Maria Cristina de Souza Rachado devem depor na CPI do Tráfico de Armas. Entre os parlamentares, há a convicção de que eles devem sair de lá presos.

VERSÃO

O advogado admitiu que foi ao shopping com Pilastre. Mas conta outra versão: "No final da sessão do meu cliente, esse rapaz me abordou e disse que o secretário da CPI tinha dado autorização para dar uma cópia do depoimento dele para a outra advogada e para mim. Ele disse que eu precisava acompanhá-lo até outro local porque lá não tinha computador para colocar cartão de leitura e gravar o CD."

Cunha nega ter dado dinheiro para o funcionário e, primeiro, disse que não viu se a outra advogada pagou. "Ele disse que ela é que deu dinheiro, né?" Depois voltou atrás e disse que ela não pagou. "Não. Ela não pagou nada." Após pegar as gravações, conta ter ido para o aeroporto de Brasília e ter viajado de volta para São Paulo conversando "sobre coisas da vida" com o delegado Godofredo Bittencourt.

Sérgio Weslei da Cunha é advogado de Leandro de Lima Carvalho, preso na Marginal do Tietê em um Vectra levando fuzis, uma submetralhadora e granadas, arsenal que seria usado para uma tentativa de resgate de Marcola. O advogado diz que seu cliente não é do PCC e nunca defendeu presos ligados à facção. Passou o dia dando entrevistas no escritório de seu advogado, Ademar Gomes

O deputado Moroni Torgan afirmou, por meio de sua assessoria, que não responderá ao que chamou de "insanidades".

No início da noite, Maria Cristina também esteve no escritório de Ademar Gomes. Antes de saber do conteúdo das entrevistas dadas por Cunha, negou ter sido abordada pela funcionário e ter ido com ele até um shopping em Brasília. Minutos depois, afirmou: "Na verdade, eu fui. Fiquei lá, vendo umas lojas. Mas não vou falar ainda porque estou com pressão alta."

E O MARIDO....

A advogada do PCC é casada com o delegado José Augusto Rachado, da Delegacia de Cartas Precatórias do 20º Distrito. Procurado pelo Estado, ele afirmou desaprovar a atuação da mulher na defesa da facção. "Estou na mesma casa que ela, mas na prática somos separados. Quando casamos, ela era escrivã. Não gostei quando ela entrou nessa, ainda mais envolvendo meu nome. Sabia que uma hora poderia acontecer alguma coisa com ela. Sempre fui contra isso."

Rachado disse que não fala sobre assuntos do PCC com a mulher - e soube pela imprensa de seu envolvimento com a onda de violência na cidade.