Título: Lembo diz que não vê a hora de sair
Autor: Silvia Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/05/2006, Metrópole, p. C5

Há 49 dias no comando do maior Estado do País, dos quais os últimos 7 passou administrando a pior crise na área da segurança da história de São Paulo, o governador Cláudio Lembo (PFL) fez um desabafo público ontem, negou a saída do secretário Nagashi Furukawa, da Administração Penitenciária, e recebeu o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos.

Lembo disse que não vê a hora de deixar o governo. A declaração foi feita durante um discurso em evento com o prefeito Gilberto Kassab na sede do governo estadual. Já no fim do pronunciamento, Lembo afirmou: "Vamos trabalhar juntos, Prefeitura e Estado nesses oito meses que restam de governo, graças a Deus."

Surpresa, a platéia, formada por professores e assessores das administrações municipal e estadual, riu. O governador respirou fundo e repetiu: "Graças a Deus."

Lembo disse que o desabafo se deve aos dias difíceis que tem passado à frente do governo com essa onda de atentados patrocinados pela facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), que expôs de forma escancarada o calcanhar de Aquiles do governo do Estado e a sua fragilidade da luta contra o crime organizado. "É uma honra governar São Paulo, mas você há de admitir que essa honra me teve um custo emocional muito grande", comentou. "Foi difícil. Eu não esperava."

Lembo está contando os dias para entregar o governo ao sucessor. Daí o apelo a Deus. "Deus há de me ajudar que o tempo passe depressa", disse aos repórteres num tom bem-humorado.

O governador negou, porém, que estivesse querendo fugir dos problemas de São Paulo. "Não. Ao contrário. Sou um homem de coragem." Também evitou culpar a herança de seu antecessor, Geraldo Alckmin (PSDB), pelas noites mal dormidas desde sexta-feira passada. "Não culpo a herança, mas a realidade social brasileira."

Aos 71 anos, o governador disse ainda que não pretende mais exercer um cargo público. "Acho que na minha idade o melhor lugar e a caminho do cemitério", brincou.

Dois dias depois de prometer a divulgação dos nomes dos 107 mortos suspeitos de participação nos ataques, o governo agora prefere não falar em prazos. Ontem, o governador afirmou que a lista somente será divulgada quando os inquéritos policiais para apurar cada um dos casos forem instaurados. "Queremos fazer o mais depressa possível, mas temos de respeitar a estrutura burocrática e legal. Eu não posso violar a lei e dizer 'Faça rápido'."

TROCA

Lembo rechaçou as especulações sobre a troca do secretário da Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa. "Não existe isso. Se ele quiser, vai ficar até o fim do governo", garantiu. O governador deu nota 10 para a atuação do seu secretariado durante a crise da segurança. "Dou 10 com louvor", reforçou. E ainda emendou: "Sou um professor muito bondoso." Para ele, a cúpula da polícia e os secretários Nagashi e Saulo Abreu (Segurança Pública) formaram "uma equipe notável, que nos momentos mais difíceis mostrou grande eficiência e responsabilidade".

À noite, Lembo teve uma reunião com o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. Nenhum dos dois deu entrevista. Em nota, o governador disse que na ocasião foi discutida a aprovação de projetos de lei que alteram o Código Penal e a Lei de Execuções Penais e que estão na pauta do Senado.