Título: Para especialistas, medida é paliativa
Autor: Gerusa Marques
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/05/2006, Metrópole, p. C7

Os especialistas em telecomunicações aprovam a decisão de desligar estações rádio-base. Mas avisam: isso é só um paliativo, uma solução de emergência. "Após as rebeliões e atentados, foi uma boa idéia, pois deterá ordens de dentro das cadeias", observa o presidente da Associação Brasileira de Engenheiros Eletricistas, seção São Paulo, João Oliva.

Professor titular de Eletrônica da Poli-USP e coordenador do Laboratório de Sistemas Integráveis, o professor João Antonio Zuffo teme que o desligamento de antenas seja visto como uma solução - como ressaltou ontem o ministro das Comunicações, Hélio Costa. "Não é. Medidas semelhantes podem deixar incomunicáveis milhares de pessoas. O melhor seria se pensar na instalação de bloqueadores nas cadeias."

Para Oliva, a medida poderá agradar à população em geral, que se sentirá mais segura."Futuramente, a indústria nacional poderá desenvolver tecnologia de bloqueio ou as operadoras podem começar a utilizar antenas de alcance menor." No entanto, será preciso vencer as críticas, até judiciais, ao avanço das antenas em áreas residenciais. "Só que não há nenhum estudo no mundo que prove malefícios à saúde causados por antenas."

Desde 2001, existe no País tecnologia para bloquear o sinal de celulares - e com aparelhagem nacional, desenvolvida pela Agência Goiana do Sistema Prisional. No entanto, apenas oito presídios brasileiros resolveram adotar barreiras eletrônicas.

Segundo Zuffo, a vantagem dos bloqueadores é que eles funcionam como um radar às avessas: emitem o mesmo tipo de onda de um celular, o que elimina o sinal. O alcance é regulável e atingiria todos os sistemas de telefonia. E o custo não é tão alto como se imagina. "Hoje, pela internet, você consegue acessar até 200 sites que vendem bloqueadores. Há peças de US$ 100, usadas em áreas de guerra para impedir detonações de bombas (em carros por exemplo), e de US$ 4 mil, com um raio de ação de 350 metros, que cobririam a maior parte dos presídios."

Apesar de mais barata, a decisão de desligar estações causa transtornos à população, sobretudo em área de grande população. "Não se poderia interromper o sinal ao lado do Cadeião de Pinheiros, por exemplo, que fica no meio de São Paulo", destaca o professor da Poli.