Título: Trancado em redoma, ele evita dar entrevistas
Autor: Alexandre Rodrigues, Kelly Lima, Fabiana Cimieri
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/05/2006, Nacional, p. A9

No segundo dia de protesto, Anthony Garotinho deu um tom mais dramático à sua greve de fome. Passou o dia trancado na sede regional do PMDB, no centro do Rio, atrás de uma porta de vidro - onde podia ser fotografado, mas não entrevistado. Rezou, recebeu visitas, dormiu no sofá. Só no início da noite quebrou o silêncio, dizendo que manterá o protesto e a pré-candidatura. Atacou a imprensa, alegando que não consegue se defender, mas não recebeu os repórteres.

"Sei que é difícil para alguns entenderem o meu sacrifício diante da podridão que tomou conta do meu país, mas não destruirão a minha honra. Vou lutar, lutar e lutar para ser o candidato do PMDB", disse Garotinho, lendo manifesto que mais tarde foi distribuído para a imprensa. Ele se disse pronto para responder a todas as acusações: "Dêem-me espaço e mostrarei os documentos."

Garotinho voltou a atacar o jornal O Globo, dizendo que não consegue responder às acusações, entre outras críticas. "O mais novo manifesto do ex-governador mistura desinformação com ilações políticas confusas, que mostram o seu desconhecimento da independência que a imprensa brasileira atingiu", reagiu o jornal, por nota. O Globo reafirmou as denúncias e garantiu que todos os acusados tiveram amplo direito de defesa.

Ontem à noite, a governadora do Rio, Rosinha Garotinho (PMDB), anunciou a criação de uma comissão para apurar as denúncias de irregularidades na execução de serviços pela Fundação Escola de Serviço Público (Fesp). A comissão, que será subordinada à Procuradoria-Geral do Estado, tem 30 dias para concluir as investigações. A Fesp é acusada de repassar R$ 112,5 milhões, desde 2003, para ONGs ligadas a empresários que teriam doado dinheiro para a pré-campanha de Garotinho.

ORAÇÃO

No domingo, primeiro dia da greve de fome, o ex-governador passou boa parte do dia na companhia da mulher, Rosinha. Perto da porta de vidro que o separa das câmeras há um sofá, onde dormiu. A sala tem frigobar, com garrafas de água mineral e, ao fundo, um pequeno banheiro, onde Garotinho tomou banho, ontem de manhã.

Durante todo o dia, o pré-candidato alternou orações, conversas com correligionários, a leitura de um livro religioso e anotações. Em alguns momentos, apagava a luz e deitava-se no sofá, permanecendo imóvel diante dos flashes. Parecia dormir.

Por volta do meio-dia, Rosinha voltou, trazendo sete dos nove filhos. A família se abraçou e fez uma oração. Sentados em torno do pai, ainda deitado, as crianças o abraçaram. Clara, de 11 anos, chorou.