Título: CUT ignora crise política e defende governo na Paulista
Autor: Rodrigo Pereira, Carlos Franco
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/05/2006, Nacional, p. A7

Poucas estrelas petistas prestigiaram ato, que só tinha 1 bandeira do partido

A Central Única dos Trabalhadores (CUT) deixou de lado o discurso de luta em sua festa pelo Dia do Trabalho, na Avenida Paulista, em São Paulo. O tom do evento, que custou R$ 2,5 milhões, foi de despolitização, com baixa presença de estrelas petistas e nenhuma referência às CPIs e a episódios como o mensalão e a violação do sigilo do caseiro Francenildo dos Santos Costa. Nos raros discursos políticos, o governo Lula foi louvado e a oposição criticada.

Do primeiro time petista apareceram só a ex-prefeita Marta Suplicy e o senador Aloizio Mercadante, que disputam a indicação do partido para concorrer ao governo estadual. O sindicalista Luiz Marinho, ex-presidente da CUT e hoje ministro do Trabalho, não foi. De manhã, ele participou de missa em São Bernardo ao lado do presidente Lula, mas, segundo sua assessoria, dores na coluna o impediram de ir ao evento na Paulista.

Em 2005, antes do escândalo do mensalão, o palco da CUT abrigou dois ministros - do Trabalho, Ricardo Berzoini, e da Casa Civil, José Dirceu - e os líderes na Câmara e no Senado, entre outros petistas.

Ontem, no imenso palco, quem brilhou foram exatamente aqueles que atraíram perto de 1,5 milhão de pessoas ao evento: Daniel, Daniela Mercury, Rick e Rener, Edson e Hudson, KLB e Zezé di Camargo e Luciano - justamente os artistas.

O tradicional vermelho da festa da CUT deu lugar ao verde-amarelo. Cerca de três dezenas de manifestantes empunhavam bandeiras do MR-8 e da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil. O PC do B tinha quatro bandeiras. O PT, uma.

Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, José Lopez Feijóo disse que o PT não está envergonhado e tem muito a comemorar. "O salário mínimo que entra em vigor é o maior dos últimos 20 anos." Ele justificou a ausência de camisetas vermelhas e buttons do PT e da CUT por se tratar de "pré-aquecimento" para a Copa do Mundo. Quanto à falta do clima político que sempre marcou o 1º de Maio da CUT, Feijóo disse que "cada momento é um momento diferente, e este é de festa".

A CUT usou menos de 1 hora da festa para a política. Nos oito discursos, o tema era um só: ataques à oposição e defesa da reeleição de Lula. A maioria exaltou "os avanços do País nos últimos quatro anos", em comparação ao "governo entreguista, reacionário e preocupado com as elites" dos tucanos.

João Felício, presidente nacional da CUT, citou o Bolsa Família e defendeu um segundo mandato para Lula, usando como argumento o fato de o PT ser, na sua opinião, "o que há de mais ético" na política nacional.

A platéia demonstrou pouca empolgação com os discursos. Os mais carregados de jargão ideológico receberam vaias.