Título: Servidor larga emprego para vender sucata
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/05/2006, Economia & Negócios, p. B14

Você trocaria um emprego público por uma carroça? Ariovaldo Dalla Torre fez isso no início dos anos 80 e não se arrependeu. Pediu demissão da Central de Compras do Estado de São Paulo, alugou uma carroça e, com o pouco dinheiro que tinha, começou a investir no mercado da sucata. Com o desafio de sustentar a mulher e três filhos, Dalla Torre ganhou as ruas de São Paulo atrás de ferro-velho. ¿Já no primeiro mês, tive uma renda maior do que em um ano inteiro de trabalho como funcionário público¿, lembra.

No início, escondia-se debaixo das roupas de tanta vergonha. Hoje, aos 53 anos, dono de um depósito de sucata com 20 funcionários na zona norte de São Paulo, Dalla Torre tem orgulho da profissão. A sucata já lhe rendeu uma casa própria, três caminhões e dois carros importados. Sua especialidade são as latinhas de alumínio.

¿A lata é a verdadeira rainha da sucata. É o que chega em maior volume e, nesse ramo, o que vale é a quantidade.¿ Diariamente, ele descarrega uma média de 5 toneladas de latas no galpão da empresa de reciclagem da Aleris Latasa. O quilo que compra por R$ 3,10 revende a 3,50.

Para Dalla Torre, a disparada no preço dos metais refletiu pouco na atividade. A margem de lucro subiu, mas a concorrência aumentou em proporções bem maiores, segundo ele. ¿Quando comecei, era o único sucateiro do bairro. Agora, são mais de trinta.¿

O Compromisso Empresarial pela Reciclagem (Cempre) estima que há cerca de três mil sucateiros registrados formalmente no País. Considerando-se a informalidade do setor, o número deve ser bem maior.

As cooperativas de catadores cadastradas pelo Cempre chegam a 400. No ano passado, as latinhas coletadas renderam uma receita total de R$ 496 milhões ¿ o equivalente a 1,7 milhão de salários mínimos, segundo as associações brasileiras de Alumínio (Abal) e dos Fabricantes de Latas de Alta Reciclabilidade (Abralatas).