Título: País lucra com alta de metais
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/05/2006, Economia & Negócios, p. B14

Cotação recorde de matérias-primas aumenta os lucros das mineradoras e favorece novos investimentos

A combinação entre o forte crescimento mundial e a elevada liquidez internacional tem sustentado o preço das commodities metálicas em níveis recordes. Desempenho comemorado pelas grandes produtoras desses insumos, que devem estampar resultados espetaculares em seus balanços neste ano. Além disso, vai contribuir para a trajetória de bons resultados da balança comercial brasileira, apesar da queda do dólar. Por outro lado, o patamar histórico das cotações já elevou o grau de atenção sob possíveis pressões inflacionárias, como sinalizou o Comitê de Política Monetária (Copom), na última ata divulgada semana passada.

Segundo levantamento da RC Consultores, só neste ano o preço do alumínio subiu 15,1%; ouro, 18,4%; estanho, 21,2%; e cobre, 39,5%. No caso do minério de ferro, cujo peso na pauta de exportação foi de 6,8% em 2005, a Vale do Rio Doce, líder mundial no segmento, negocia proposta de reajuste de 24% com as companhias chinesas. No ano passado, o produto já havia subido 71% e turbinou o lucro da companhia para R$ 10,4 bilhões. Na semana passada, o valor de mercado da empresa ultrapassou os US$ 60 bilhões.

As empresas brasileiras estão aproveitando a alta da cotação para crescer. Nos últimos dois anos, o grupo Votorantim destinou US$ 300 milhões à produção de zinco no Peru. Só as empresas de alumínio devem investir US$ 3 bilhões nos próximos anos. A BHP Billiton, a Alcoa e a Alcan têm um projeto de mais de US$ 1 bilhão para elevar a produção de alumina no consórcio Alumar, em São Luís (MA).

Os preços devem continuar favorecendo os investimentos. "A previsão é que as commodities permaneçam em níveis elevados até o final do ano", diz o economista da RC Consultores, Fábio Silveira. Ele avalia, no entanto, que as cotações não devem subir muito mais, já que estão em patamar recorde desde o ano passado. Fator que alivia os riscos de descontrole da inflação, considerando o atual nível do dólar (R$ 2,087). Para analistas, a pressão sobre os índices só ocorreria se as commodities mantivessem ritmo de alta.

O desempenho excepcional do preço dos metais é reflexo do aumento da demanda por causa do bom desempenho da economia mundial, especialmente pelo crescimento da China, diz o economista da LCA Consultores, Luiz Suzigan. "O país está passando por um processo de urbanização grande, com altos investimentos no setor imobiliário, o que eleva a demanda no mercado."

Em 1993 a China consumia entre 7% e 10% de metais básicos e, em 2003, passou a consumir entre 20% e 25%, segundo dados do Banco Central. Resultado disso foi que, nos dois últimos anos, os preços das commodities metálicas cresceram em média 28% ao ano. De acordo com o BC, a manutenção e a persistência das cotações em patamares elevados deve-se ainda à oferta insuficiente para atender à demanda mundial.

Outro fator de pressão sobre as cotações vem do mercado financeiro, diz o diretor do Banco Modal, Eduardo Cotrim. Com os juros americanos em patamares baixos, os investidores buscam outros tipos de ativos, como os contratos futuros baseados em commodities. A maior procura pelos papéis eleva o preço das cotações.