Título: Protestos vão afetar exportações
Autor: Patrícia Campos Mello
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/05/2006, Economia & Negócios, p. B11

Governador de MT alerta: estoques estão no fim e embarques de soja serão suspensos na semana que vem

O governador de Mato Grosso, Blairo Maggi (PPS), disse ontem que os embarques de soja para exportação podem ser interrompidos já na semana que vem, por causa dos bloqueios dos agricultores. "Até agora, as tradings estavam usando seus estoques, mas eles devem acabar semana que vem", disse Maggi ao Estado. "Com a perda de contratos de exportação, a imagem do País vai sofrer e haverá redução na entrada de recursos." Maggi é dono da Amaggi, que exporta 2,8 milhões de toneladas em soja em grão, farelo e óleo (7% das exportações de complexo soja do País).

Na fábrica da Bunge em Rondonópolis, já há 50 caminhões parados, sem poder partir para o porto com farelo e óleo de soja. Segundo Maggi, as fábricas também devem parar em breve, porque chegaram ao limite de seus estoques de grãos e não conseguem escoar o farelo e o óleo. "Certamente os bloqueios e a crise vão afetar os resultados da balança comercial", disse o governador.

Ele afirmou que será necessária a interferência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que saia do papel a "MP do Bem" para a Agricultura. "Se não é possível mexer no câmbio, teremos de reduzir os custos, e essa diferença precisa sair da carga tributária", disse o governador de Mato Grosso.

Ontem, a Rodovia BR 163, que dá acesso de Campo Grande a São Paulo, e a BR 364, que dá acesso a Goiás e à Ferronorte, foram bloqueadas, na cidade de Rondonópolis, em Mato Grosso. Com a adesão de Rondonópolis, já são mais de 40 municípios em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rondônia que estão com as estradas bloqueadas pelo protesto.

Os produtores se manifestam contra o dólar baixo, o alto preço do diesel e pedem a reestruturação das dívidas. Eles ameaçam bloquear o escoamento da safra de grãos por tempo indeterminado. Estão barrando caminhões, bloqueando a saída das tradings como a ADM, Bunge e Cargill e Amaggi, e queimando máquinas agrícolas e tratores na pista. Nesta semana, a cidade de Cascavel, no Paraná, Rosário, na Bahia, e o Estado de Goiás devem aderir.

Em Rondonópolis, cerca de 50 tratores, máquinas agrícolas, e mais de 20 caminhões barraram a passagem de caminhões com grãos, adubos, defensivos agrícolas e combustíveis. Trezentos agricultores protestaram no entroncamento das estradas. "Rondonópolis é uma das principais vias de escoamento da safra e nós vamos ficar aqui até a área econômica do governo se sensibilizar", disse Ricardo Tomczyk, diretor administrativo da Associação de Produtores de Soja do Mato Grosso (Aprosoja).