Título: Varig: Plano B é levado a credores
Autor: Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/05/2006, Economia & Negócios, p. B9

Consultoria trabalhou no fim de semana para concluir proposta que deve ser apresentada hoje em assembléia

A consultoria Alvarez&Marsal, reestruturadora da Varig, passou o fim de semana preparando a apresentação aos credores do chamado Plano B.

O plano consiste, basicamente, da criação de uma parte doméstica e sem dívidas - a Varig Brasil -, que seria vendida em separado da internacional, com financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Além do projeto, em paralelo, serão apresentadas hoje, em assembléia aos credores, alterações no plano de recuperação, como a dilatação do prazo para pagamento das dívidas acumuladas e incluídas no processo. Os detalhes da proposta ainda estavam sendo fechados até o início da noite de ontem.

A assembléia de credores foi confirmada pela Varig, mas poderá ser suspensa por 48 horas, caso seja solicitado prazo adicional para a análise dos fatos novos surgidos na véspera do feriado prolongado. O principal foi a possibilidade de cisão da Varig numa parte doméstica e outra internacional, que ficaria com o endividamento e dentro do plano de recuperação judicial.

A assembléia foi convocada para analisar quatro propostas do processo: a compra da Varig pela VarigLog por US$ 400 milhões; a venda da parte doméstica com financiamento e antecipação de empréstimo-ponte do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (o chamado Plano B); além das propostas do movimento Trabalhadores do Grupo Varig (TGV) e a do consultor Jayme Toscano. Serão votadas também alterações no plano.

Uma das mudanças é justamente a permissão para a venda isolada da parte doméstica, o que não estava previsto originalmente. Partes envolvidas nas negociações informaram que, até ontem, também estava em estudo a ampliação do prazo de pagamento das dívidas dentro do processo de recuperação.

Não se trata das despesas correntes, mas do endividamento acumulado pela empresa até a entrada na recuperação, em meados de 2005. Os prazos totais para pagamento poderiam ser acrescidos de 2 a 4 anos.

Caso a assembléia ocorra, também está previsto para hoje, ou no máximo amanhã, o registro e início de funcionamento do Fundo de Investimento e Participações, o FIP-Controle. Esse fundo de mercado receberá as ações da Fundação Ruben Berta (FRB), que de acionista da Varig passará a cotista do FIP-Controle.

Essa mudança marca novo modelo de governança na Varig e teria sido uma das exigências do governo federal para aderir ao Plano B de recuperação da empresa aérea. A Varig convocou, na sexta-feira passada, os trabalhadores para a assembléia.

MUDANÇA DE DIRETORIA Duas fontes indicaram, ainda, que com a entrada em funcionamento do FIP-Controle, que será administrado pelo Banco Brascan, e caso haja conclusão da assembléia prevista para hoje, poderão ocorrer nos próximos dias mudanças no Conselho de Administração e diretoria da Varig.

Com base em acordo prévio assinado pelos credores, cabe à consultoria Alvarez&Marsal indicar ao Brascan "nomes que integrarão a administração das devedoras".

A assessoria de imprensa da Varig limitou-se a confirmar que a assembléia estava mantida e não comentou as demais informações.

Ontem, a Alvarez&Marsal e o TGV estiveram reunidos na sede da empresa. No início da noite, o consultor econômico da TGV, Paulo Rabelo de Castro, confirmou o encontro e defendeu a necessidade de maior prazo na assembléia para análise e comparação das diferentes propostas. A entidade é contra a divisão da Varig nas partes doméstica e internacional. Hoje à tarde, está prevista audiência no Senado.

Conforme o Estado antecipou na edição de domingo, a empresa de gestão ASM Asset Management estrutura um fundo disposto a participar de um eventual leilão da Varig doméstica e há, segundo a empresa, outros dois grupos interessados, um fundo californiano e um banco nacional de investimento.