Título: Lula defende Lembo para tentar acirrar crise entre PFL e PSDB
Autor: Ricardo Brandt
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/05/2006, Nacional, p. A4

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou o mal-estar entre tucanos e pefelistas provocado pela crise na segurança pública paulista para jogar mais lenha na fogueira ontem, ao defender, em São Paulo, a atuação do governador Cláudio Lembo (PFL). "Eu quero dar a minha solidariedade ao governador Cláudio Lembo, pela postura que ele teve. Ele não podia fazer mais do que fez."

O afago de Lula a Lembo é uma clara tentativa de insuflar a crise provocada na sólida aliança entre PSDB e PFL, após as farpas lançadas por Lembo nos últimos dias contra o ex-governador Geraldo Alckmin e o ex-prefeito José Serra. Lembo chegou a afirmar que Serra - que não tinha procurado o governador - poderia estar sofrendo de amnésia.

O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PFL), que participou do evento, também foi alvo do "assédio" de Lula. Além de uma conversa reservada, o presidente aproveitou seu discurso para dizer que com Kassab na Prefeitura ele tinha certeza de que os programas federais em São Paulo não seriam mais alvo de retaliações.

O presidente Lula, que esteve em São Paulo para participar da inauguração da sede do Sindicato dos Comerciários (filiado à Força Sindical), foi recebido por Lembo no Aeroporto de Congonhas e teve com ele uma reunião de 20 minutos.

"Ainda há pouco estive com ele (Lembo) no aeroporto e disse para ele: Cláudio, o que você precisar, não se faça de rogado. Nós estamos dispostos a ajudar com o que a gente tiver para ajudar", relatou Lula, em seu discurso no sindicato. "O governo federal não poderia vir aqui sem pedir ao governador, por isso que nós oferecemos. Senão seria intervenção, e não pode haver intervenção, tem que haver o pedido do governador", completou.

Para o presidente, que em outras ocasiões chegou a apontar o PSDB como um dos responsáveis pelo colapso na segurança paulista, Lembo não pode ser responsabilizado pela crise. "O problema não é do governador, o problema não é do presidente ou do prefeito, o problema é da sociedade brasileira."

Ao defender, mais uma vez, que a questão da violência precisa ser resolvida com mais investimentos na área de educação, o presidente disse que o País colhe o que foi plantado e que é preciso "assumir a responsabilidade" para o futuro. "Cada tijolo que a gente colocar em uma escola será um tijolo a menos em uma cadeia que nós teremos que fazer neste País", declarou o presidente. "Ou nós acreditamos na futura geração e plantamos agora o que vamos colher daqui a 15 ou 20 anos, ou nós ficaremos apenas preocupados com o que aconteceu no passado. E pode colocar policial na rua à vontade. Pode colocar que esse problema da violência já é um problema cultural que precisa muito mais do que polícia para resolver."

Lula fez questão de enumerar ações do governo federal na área social, como o Programa Universidade para Todos (ProUni), que ofereceu 64 mil vagas para que alunos pobres pudessem estudar na universidade. Ele ainda ressaltou que só em São Paulo o programa Bolsa Família atende 854 mil famílias.

O presidente aproveitou o discurso também para alfinetar o PSDB. "Eu acho que o Brasil que nós desejamos é um Brasil que não permite mais que a gente fique encontrando culpados para as coisas erradas. As coisas certas não têm problema, todo mundo quer ser pai. Todo mundo quer fazer um DNA para ver quem é pai da coisa bem-feita. Agora, quando as coisas não dão certo, ninguém assume, e eu acho que nós temos que assumir as coisas boas e as coisas ruins."

REFORMA SINDICAL Como o evento era de inauguração de uma sede de sindicato, o presidente Lula fez questão de abrir o seu discurso falando da reforma sindical, que está tramitando no Congresso. Elecitou Jesus Cristo para dizer que é natural que o texto final da reforma não agrade a todos. "Só Cristo pode ter unanimidade. Mesmo assim, na Santa Ceia ele não teve, porque teve um traidor lá."

Para o presidente, as divergências entre lideranças sindicais serão superadas pela necessidade de mudanças na atual legislação sindical e trabalhista do País. "Nós estamos no século XXI, na era da informática, na era da química fina, na época das fibras óticas, ou seja, nós não podemos ter a mesma legislação que a gente tinha na década de 40, quando o Brasil estava começando o seu processo de industrialização."