Título: De capacete da YPFB, Evo discursa para 100 mil pessoas
Autor: Roberto Lameirinhas
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/05/2006, Economia & Negócios, p. B1

O discurso de 1º de Maio que Evo Morales fez ontem à noite na Praça Murillo, no centro de La Paz foi quase apoteótico. Pelo menos 100 mil pessoas, segundo a polícia, festejavam ao som de música regional a assinatura do decreto de nacionalização dos hidrocarbonetos desde o começo da tarde, tremulando a whipala - a bandeira quadriculada e colorida dos povos indígenas andinos - e a bandeira oficial boliviana. Na praça, os simpatizantes do Movimento ao Socialismo (MAS, partido de Evo) se congratulavam pelo que qualificaram de "dia histórico".

Usando um capacete da Yacimientos Petrolíferos Fiscales de Bolívia (YPFB), Morales só apareceu no balcão do Palácio Quemado, a sede da presidência, às 20h30. Falou por meia hora e defendeu a nacionalização como um dos primeiros passos para a "refundação da Bolívia", prometida na campanha eleitoral. Também lembrou que a próxima etapa desse processo será a eleição da Assembléia Constituinte, marcada para 2 de julho.

Na mesma data, ocorrerá o referendo sobre a autonomia dos departamentos do país - tema que tem dividido a sociedade boliviana há décadas e se tornou mais debatido com a alta rejeição do presidente em Santa Cruz, a mais rica região da Bolívia. Entre os analistas bolivianos, muitos creditam a recente escalada na retórica radical de Evo à proximidade desse embate político.

No Altiplano, área andina mais povoada e mais pobre, no entanto, a popularidade do presidente (cerca de 70% de aprovação) deve aumentar ainda mais com a decisão de nacionalizar os recursos petrolíferos. "Evo está provando que este é um governo do povo", disse ao Estado uma militante do MAS. "Aqui, não haverá decepção."

Durante o discurso, Evo convocou os bolivianos a "lutar contra a possível sabotagem da nacionalização", dizendo que muitos setores do país devem resistir à medida. E aproveitou para citar o episódio que envolveu a empresa brasileira EBX, em Puerto Suárez, para ilustrar as possíveis divisões da sociedade boliviana.