Título: Diálogo com ETA começa em junho
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Fonte: O Estado de São Paulo, 22/05/2006, Internacional, p. A7

As conversações sobre uma solução para o problema da violência política no País Basco deverão começa já no próximo mês, anunciou ontem o primeiro-ministro espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, num encontro da agremiação governante, o Partido Socialista, na cidade basca de Barakaldo.

Esta foi a primeira vez que Zapatero falou no País Basco desde que o grupo separatista armado ETA (Euskadi Ta Askatasuna, ou Pátria Basca e Liberdade) anunciou, em 22 de março, um "cessar-fogo permanente". A ETA declarou a trégua depois de ter matado cerca de 850 pessoas em quase quatro décadas de violência - iniciada em 1968 com o assassinato de um dirigente da polícia secreta (ver ao lado).

"No próximo mês, comunicarei às forças políticas o início do processo de diálogo para alcançar o fim da violência com a ETA", afirmou Zapatero. Ele prometeu dar "passos firmes" para a paz, mas sem pressa. "O governo levará o tempo necessário para que cada passo que dê seja um passo irreversível na boa direção, na direção que os cidadãos querem, de forma a assegurar que nunca mais se volte a ver violência", destacou o primeiro-ministro.

Zapatero não especificou a data exata em que informará os partidos no Parlamento, mas especula-se que seria no início de junho. As negociações efetivas com a ETA começariam "nos dias seguintes", informou uma porta-voz do chefe de governo citada pela agência France Presse.

Para a maioria dos analistas espanhóis, as discussões se concentrarão em questões de curto prazo, como o retorno ao País Basco de prisioneiros bascos que atualmente estão espalhados por prisões de toda a Espanha.

Apesar das pressões dos radicais bascos por negociações paralelas para tratar de questões de longo prazo, como a busca de independência, Zapatero insistiu que é preciso avançar com calma. "Pode ser que algumas pessoas estejam com pressa, enquanto outras poderiam achar que este processo nunca deveria ter começado, mas precisamos tornar a paz irreversível e criar um País Basco com um potencial maior do que nunca", disse ele.

O anúncio de Zapatero mostra que ele acredita na manutenção da trégua. Desde o cessar-fogo, as forças de segurança já enviaram três informes sobre as atividades da ETA ao governo espanhol, que se declarou "razoavelmente satisfeito" com o comportamento da organização.

No sábado, Arnaldo Otegi, líder do proscrito partido nacionalista basco Batasuna, anunciou que a "esquerda nacionalista" divulgará esta semana as medidas que adotará em busca da paz. "Chegou a hora de estabelecer negociações multilaterais neste país, porque esse é o caminho no qual este processo (de paz) pode se desenvolver, e isto é exatamente o que faremos", afirmou o dirigente.

Otegi disse recentemente que o processo iniciado com o cessar-fogo estava numa situação "extremamente grave", acrescentando que o governo deveria sustar as ações judiciais contra ele e outros líderes bascos.

O Batasuna, que afirma ter o apoio de 12% a 16% dos bascos, foi proscrito pela Suprema Corte espanhola em 2003, acusado de ter vínculos com a ETA e de não condenar a violência.