Título: Acusação contra Humala agita campanha no Peru
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Fonte: O Estado de São Paulo, 22/05/2006, Internacional, p. A9

A acusação do ex-chefe da inteligência peruana Vladimiro Montesinos de que o candidato presidencial Ollanta Humala o ajudou a fugir do país, em 2000, e colaborou na reeleição do ex-presidente Alberto Fujimori provocou no fim de semana um terremoto político. A polêmica antecedeu o debate na TV marcado para as 20 horas de ontem (22 horas em Brasília) entre o nacionalista Humala e o ex-presidente social-democrata Alan García, que as pesquisas de intenção de voto apontam como franco favorito na disputa do segundo turno da eleição, dia 6.

Montesinos está preso numa base naval, onde cumpre pena de 15 anos por corrupção. Numa gravação divulgada sexta-feira, ele disse que a rebelião militar que Humala (coronel reformado) promoveu em outubro de 2000 contra o governo Fujimori não passou de uma farsa. O objetivo seria facilitar a fuga de Montesinos do país. A acusação foi logo rechaçada por Humala, que acusou Montesinos de ter feito um acordo com García para minar sua candidatura. "Quem se beneficia com as declarações que mancham a honra de Ollanta Humala? García, evidentemente", comentou Humala. "Todo mundo sabe que Montesinos luta por sua liberdade. Não darei isso a ele."

García rebateu a insinuação de Humala, em entrevista à Rádio RPP: "Alan García não precisa de nenhuma intervenção alheia para manter a tendência das pesquisas. Não vou usar isso no debate." Já um assessor de Humala tinha dito sábado que este divulgaria, no debate, uma gravação que comprovaria uma ligação entre Montesinos e García, mas ontem recuou e afirmou que a fita não seria divulgada no embate na TV.

Em Santiago, onde aguarda julgamento de um pedido de extradição do Peru, Fujimori afirmou desconhecer a suposta trama de Humala. Disse ainda que simpatiza com um dos dois candidatos, mas não revelará qual.

Nos anos 90, Montesinos era a autoridade mais temida no Peru, pois construíra um sistema de inteligência baseado na vigilância e na instigação do medo na população. Valia-se de favores, subornos e coerção para controlar o Congresso, os tribunais, as eleições e a mídia. Também dominava os militares, que ajudaram Fujimori a conquistar um terceiro mandato em 2000, numa eleição qualificada de fraudulenta pelos observadores internacionais.

O que desencadeou a queda de Montesinos e, em seguida, de Fujimori foi a divulgação de um vídeo mostrando o chefe da inteligência subornando um deputado da oposição para que se unisse à bancada governista. Montesinos era procurado quando Humala liderou a rebelião. Foi então que Montesinos fugiu do país. Só foi preso em 2001, na Venezuela.