Título: Esvaziado, conselho decide futuro de Vadão
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/05/2006, Nacional, p. A5

Votação já foi adiada uma vez para evitar absolvição

O relatório que recomenda a cassação do deputado Vadão Gomes (PP-SP) será votado hoje pelo Conselho de Ética da Câmara, esvaziado desde a renúncia de seis conselheiros, inconformados com as absolvições em plenário de nove envolvidos no escândalo do mensalão. Um grupo de parlamentares tentava ontem garantir quórum elevado, para evitar que o parecer do relator Moroni Torgan (PFL-CE) seja derrotado já no conselho. Na semana passada, a votação foi adiada porque o deputado Nelson Trad (PMDB-MS) pediu vista, ao perceber que não havia oito votos, o mínimo necessário, para aprovar o texto.

Vadão foi processado porque o empresário Marcos Valério, operador do mensalão, disse ter entregue ao deputado, em duas remessas, nos dias 5 de julho e 16 de agosto de 2004, o total de R$ 3,7 milhões em dinheiro vivo. Valério relatou que a entrega foi feita em um hotel de São Paulo, mas não se lembrava do nome. Vadão nega ter recebido qualquer recurso do esquema de caixa 2 montado pelo empresário, em parceria com o PT.

Um dos argumentos de Vadão é o fato de ser um homem rico. Dono de frigoríficos e fazendas de gado, ele informou ao conselho que suas empresas faturam R$ 75 milhões mensais, ou seja, quase R$ 1 bilhão por ano. Para Vadão, diante dos lucros milionários, não haveria por que receber R$ 3,7 milhões de Marcos Valério. Moroni Torgan, porém, não aceitou os termos da defesa. "Esse tipo de argumento não desqualifica a denúncia."

O relator tampouco aceita como decisivas as provas apresentadas por Vadão de que seu avião particular não estava em São Paulo nas duas datas citadas por Marcos Valério. O relator mostrou que, em pelo menos uma ocasião, Vadão hospedou-se em São Paulo, no hotel Sofitel, e seu avião não estava no hangar do aeroporto de Congonhas. "Ele tinha outras formas de chegar a São Paulo que não fosse no próprio avião."

Na última sessão do conselho, compareceram apenas dez titulares com direito a voto. Trad pediu vista porque percebeu que pelo menos três votos seriam contra o relatório, o suficiente para rejeitá-lo.

O presidente do conselho, Ricardo Izar (PTB-SP), reclamou do fato de que até hoje o PT não indicou os deputados que vão substituir os ex-titulares Chico Alencar (PSOL-RJ) e Orlando Fantazzini (PSOL-SP), ambos dissidentes do petistas.

Até agora nove deputados processados no Conselho de Ética já foram absolvidos no plenário da Câmara. Três tiveram os mandatos cassados e quatro renunciaram para não correrem o risco de sofrer a punição máxima, que inclui também a perda dos direitos políticos por oito anos.