Título: Evo conduzirá encontro de integração regional
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/05/2006, Economia & Negócios, p. B1

A Bolívia de Evo Morales, ironicamente, conduzirá a segunda reunião dos 12 chefes de Estado da Comunidade Sul-Americana de Nações (Casa) em novembro e será responsável por presidir o processo de integração da América do Sul entre 2006 e 2007.

Assunto prioritário na agenda de política externa do governo Lula, o principal articulador do projeto, o destino da Casa sob a 'liderança' boliviana em um momento delicado para a América do Sul começará a ser tratado hoje nas conversas do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, com Evo Morales e o chanceler David Choquehuanca.

O cenário para esse projeto não anda nada favorável, com os blocos sub-regionais ameaçados de desintegração. A Comunidade Andina de Nações (CAN) assistiu no mês passado ao abandono da Venezuela, contrariada pelo fato de a Colômbia e o Peru terem concluído acordos de livre comércio com os EUA. Por enquanto, Morales apenas critica as atitudes de Bogotá e de Lima. Mas, sob forte influência do presidente venezuelano, Hugo Chávez, a Bolívia poderá adotar o mesmo rumo.

A Venezuela negocia o ingresso ao Mercosul, como membro pleno, desde dezembro passado, quando o Uruguai convidou a Bolívia para seguir o mesmo exemplo. A resposta de La Paz ainda não foi ouvida. Mas Amorim antecipou ontem que, se aceitar, 'será bem-vinda' ao Mercosul. O dilema, porém, está no atual formato desse bloco, que padece os reveses de sua frágil integração e das assimetrias econômicas entre seus sócios. Os dois menores - Uruguai e Paraguai - sinalizaram que vão solicitar permissão para também negociarem, individualmente, acordos de livre comércio com EUA e outros países.

Ontem, Amorim reiterou não ter como aceitar tal pedido e referiu-se ao problema do possível acesso de produtos americanos à região, com tarifa zero, por meio desses países. 'Ao ler CAN, você pode ler também Mercosul. Se o Uruguai e o Paraguai quiserem negociar com os EUA, o Mercosul deixará de ser o que é hoje', disse.