Título: Alckmin vê "roubo" no governo Lula
Autor: Cida Fontes, Carmen Pompeu
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/05/2006, Nacional, p. A7

Em campanha no Ceará, tucano disse que Lula já teve sua oportunidade, mas o País não evoluiu no governo dele

Em visita ao Nordeste, onde ostenta índices de popularidade de um dígito, o pré-candidato Geraldo Alckmin (PSDB) bateu duro em seu oponente principal, ao conceituar os escândalos políticos dos últimos meses: "Com Lula, reapareceu de forma acintosa aquilo que já tinha acabado na política. Não tem outra palavra - é roubo", disse, colhendo, em troca, a euforia da platéia simpática ao seu partido, que governa o Estado. Ele visitou ontem as cidades de Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha, no sertão do Cariri (CE), administradas por PTB e PSDB.

Acompanhado pelo senador Tasso Jereissati e pelo governador Lúcio Alcântara, ambos do PSDB, ele fez promessas contidas: "Estou aqui para ouvir, sentir, conversar com todos e elaborar um grande projeto para o Nordeste, sem mentiras", disse ao discursar em Crato, próximo a Juazeiro do Norte, terra de padre Cícero. Alckmin tenta se tornar conhecido no Nordeste, região onde amarga os piores índices e luta para reduzir a ampla preferência por Lula.

Lá, ele falou às claras, abandonando o seu tradicional estilo morno de discursar em público: "Lula já teve a sua vez, o povo já lhe deu oportunidade e o Brasil não andou." Cedo, em Fortaleza, já criticara o oponente: "Lula está soberbo, vestindo salto 15. Eu vou de sandálias da humildade." Animado com a recepção calorosa nas três cidades do Cariri, que ficam a cerca de 500 quilômetros de Fortaleza e somam mais de 300 mil votos, disse se sentir "em casa".

Apesar da proibição da Lei Eleitoral, os oradores repetiram, nos palanques, pedidos explícitos de votos para o pré-candidato. Os líderes partidários se revezaram para apresentar o tucano, exaltar as suas supostas qualidades e apontar os resultados positivos em sua administração no governo de São Paulo. "Ele é um homem simples, objetivo, de bom caráter, sem arrogância", expressou o governador Lúcio Alcântara, candidato à reeleição.

Tasso, que continua estremecido com Lúcio em razão da disputa estadual, também desfiou um rosário de adjetivos ao pedir votos para Alckmin. Do prefeito de Barbalha, Romel Feijó, do PTB, que o chamou de "dr. Geraldinho", só ouviu elogios. Antes e depois dos discursos Alckmin aproveitou para multiplicar os contatos pessoais. Recebeu dezenas de bilhetinhos com pedidos dos populares e os guardou no bolso, mas em nenhum momento tirou de lá uma esmola para os pedintes de Juazeiro do Norte.

As falas reproduziram estocadas em Lula, acusado de extrapolar as regras da reeleição ao usar "uma rede nacional de TV para se autopromover" e ao comparecer ao encontro nacional do PT com despesas pagas pelos cofres públicos. Já Alckmin justificou que seus gastos de viagem estão sendo pagos pelo PSDB, que estaria cumprindo a lei ao organizar apenas eventos em recintos fechados.

Na avaliação do PSDB, Lula conseguiu se consolidar no Nordeste às custas do programa Bolsa Família e não por meio de obras de infra-estrutura com geração de empregos. O pré-candidato cobrou investimentos do governo do PT no Nordeste, mas não atacou o Bolsa Família, que o seu partido avalia ser assistencialista sem dizê-lo de público para não perder votos dos pobres. Alckmin sustentou que o Bolsa Família nasceu no governo FHC; disse que vai ampliá-lo e não acabar com o programa, como adversários espalham entre os eleitores.

REFORMAS

Em palestra para empresários na sede da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), em Fortaleza, Alckmin defendeu a conclusão das reformas política, trabalhista e previdenciária. Ele, porém, disse ser contrário à convocação de uma nova Assembléia Constituinte: "Precisamos fazer as reformas. Chacoalhar as estruturas para o Brasil não ser o último da fila. Defendo as reformas inconclusas, mas não faria uma Constituinte", afirmou.

Observou que nem tudo precisa ser resolvido com reformas: "Muita coisa depende de ação." O pré-candidato disse ser "tecnicamente favorável" à recriação da Sudene, à transposição do Rio São Francisco e à reforma agrária. Mas fez uma ressalva: "Não podemos confundir reforma agrária com invasão de propriedades." À tarde, Alckmin viajou para Brasília, onde à noite participou de uma reunião com o seu comando de campanha. Amanhã, visitará uma exposição de gado zebu em Uberaba (MG), ao lado do governador Aécio Neves (PSDB).