Título: 'Quem se subordinar à lei terá segurança'
Autor: Nicola Pamplona
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/05/2006, Economia & Negócios, p. B3

O presidente da Bolívia, Evo Morales, assegurou que haverá segurança jurídica em seu país para as empresas que "se subordinam às leis". Também reafirmou que a petrolífera espanhola Repsol YPF "será sócia" e não "dona" dos hidrocarbonetos. "As empresas que se subordinam às leis bolivianas terão segurança jurídica", afirmou ao jornal paraguaio ABC Color.

Evo confirmou que informou à União Européia que seu país necessita de "sócios, não donos nem patrões". Ainda defendeu a nacionalização do gás e reiterou seu "respeito e admiração" ao primeiro-ministro da Espanha, José Luis Rodríguez Zapatero. "Ele está disposto a resolver temas sociais em meu país como a condenação de dívida por educação. Decidimos erradicar o analfabetismo com ajuda de professores bolivianos, cubanos e, agora, se soma a Espanha", afirmou Evo.

Sobre o consórcio petrolífero espanhol, um dos principais afetados pela nacionalização, Evo sustentou que "continuará sendo sócio e não dono" dos recursos naturais do país, assim como a estatal Petrobrás. "Precisamos de sócios que permitam investir e resolver conosco o problema econômico e social da Bolívia", disse. "Nós também podemos estar indignados com empresas que exploram nossos recursos", respondeu, sobre o aborrecimento de sua decisão no governo brasileiro.

Evo negou as acusações à Petrobrás e disse que suas expressões foram distorcidas por alguns meios de comunicação para "fazê-lo brigar" com o presidente Lula. "Temos muitas coisas em comum com o companheiro Lula, um dirigente trabalhador, agora presidente." Ele afirmou ainda não ser "fantoche" do presidente venezuelano, Hugo Chávez, ou do líder cubano, Fidel Castro.

"Recebo sugestões de todos. O presidente da França, Jacques Chirac, me disse: 'Evo, você começou a dignificar seu povo depois de 500 anos'." Chirac também lhe disse, segundo Evo, que lhe "faz falta diplomacia para explicar as decisões".

ARGENTINA Para o presidente argentino, Néstor Kirchner, Evo tomou uma decisão "soberana" ao nacionalizar o gás de seu país. Segundo Kirchner, o presidente boliviano agora terá de discutir os interesses que possui com os países que tinham investimentos e foram atingidos pela nacionalização (o principal é o Brasil). "Será preciso adaptar-se a novos funcionamentos para continuar consolidando os processos de integração", disse Kirchner, em um diplomático recado que reflete a posição argentina de resignar-se ao novo cenário criado pela decisão de Evo de aumentar o preço do gás.

As declarações de Kirchner - feitas aos jornais Clarín e Página 12 - foram feitas em meio às negociações com a Bolívia sobre o preço do gás, que, segundo o embaixador da Bolívia em Buenos Aires, Roger Ortiz Mercado, já está acertado entre "US$ 5,00 e US$ 5,50" o valor do milhão de BTU.